Durante quase 45 anos, entre o final da Segunda Guerra Mundial (1939-45) e a queda do Muro de Berlim, em 1989, as fronteiras políticas européias pareceram imutáveis, entalhadas no aço dos atlas da Guerra Fria. Nessas décadas, o continente europeu, bipartido estratégica, militar e ideologicamente em blocos antagônicos, foi o principal cenário do confronto global entre os Estados Unidos e a União Soviética.
A arquitetura geopolítica da Europa da Guerra Fria originou-se nas conferências de Yalta e Potsdam, em 1945. Na primeira, realizada pouco antes da rendição da Alemanha nazista, redefiniram-se as fronteiras da União Soviética, que reincorporou os territórios perdidos na Primeira Guerra Mundial. Lá, também, esboçou-se o que viria a ser, em poucos anos, o bloco soviético na Europa Oriental, legitimando-se o poder dos partidos comunistas nos países que haviam sido libertados do jugo alemão pela ofensiva do Exército Vermelho.
A Conferência de Potsdam, realizada pouco depois do término das hostilidades no teatro de guerra europeu, definiu o futuro da Alemanha derrotada. Lá, organizaram-se as zonas de ocupação no território alemão e os setores de ocupação em Berlim.
Desse modo, surgia o alicerce para a divisão da Alemanha em dois Estados, concretizada em 1949, e assentava-se, simbolicamente, o primeiro tijolo do Muro de Berlim, edificado em 1961.
Esses eventos históricos acabaram por produzir uma fronteira geopolítica na Europa, separando os Estados alinhados com Washington dos que passaram a gravitar em torno de Moscou. Nos lados opostos da Cortina de Ferro, estabeleceram-se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em 1949, e o Pacto de Varsóvia, em 1955. Nasciam, ao mesmo tempo, a Europa Ocidental e a Europa Oriental .
A Cortina de Ferro dissolveu-se entre com a queda do Muro de Berlim. A onda de choque gerada reverberou sobre as fronteiras políticas, redesenhando parte significativa do mapa da Europa. Em 1990, a reunificação alemã desmantelou o eixo central da divisão geopolítica do continente e produziu um novo território para o Estado unificado por Bismarck.
Em dezembro de 1991, a implosão da União Soviética gerou 15 repúblicas formalmente soberanas, das quais 12 pertencem à Comunidade de Estados Independentes (CEI). No mesmo ano, iniciou-se a decomposição da Iugoslávia. A tragédia balcânica, que ainda não terminou, foi a fonte de cinco novos Estados. Em 1992, o chamado “divórcio de veludo” vitimou mais uma das entidades surgidas da desagregação do império Áustro-Húngaro, partindo a Tchecoslováquia em duas entidades políticas.
Dez anos depois da queda do Muro de Berlim, uma Otan ampliada representa, no mapa estratégico europeu, a principal herança da Guerra Fria. As fronteiras dessa organização política e militar, os limites da União Européia e os da CEI formam as cicatrizes estratégicas mais profundas na face do continente. A mobilidade dessas linhas, cuja dinâmica contrasta com a estabilidade da antiga Cortina de Ferro, reflete a complexidade de uma Europa que não é mais a de Yalta e Potsdam.
Breve glossário econômico do fim do século
As palavras mudam mais que o mundo e algumas palavras mudam o próprio mundo.
Conheça o significado de quatro das palavras mais usadas no debate econômico da última década:
Globalização: de longe, a palavra mais usada para fazer referência ao conjunto de transformações que, nos últimos dez anos, criaram a sensação generalizada de maior importância do comércio internacional, avanço tecnológico, influência de empresas multinacionais, redefinição dos mercados de trabalho, explosão das tecnologias de informação e desprestígio do nacionalismo. Alguns preferem a palavra “mundialização”, outros ficam com a antiga “internacionalização” e os mais críticos acreditam que tudo não passa de uma fantasia para esconder o velho “imperialismo”. Atrás de cada uma dessas variantes esgueiram-se ideologias políticas em conflito.
Financeirização: alguns economistas usam esse termo para indicar o fenômeno de subordinação da vida econômica ao império das instituições financeiras que, atuando num mercado globalizado e instantâneo, valorizam e desvalorizam moedas, produtos, tecnologias e países. Em geral, quanto mais se usa a palavra, menos se gosta do fenômeno.
Competitividade: é a capacidade de uma empresa competir com outras empresas, num país ou em escala internacional, medida não apenas em termos de produtividade (ou seja, redução do custo de produção e portanto possibilidade de produzir mais com menos recursos, aumentando o potencial de lucros), mas também em termos de qualidade, marca, domínio de mercados, poder financeiro e velocidade de inovação. Trata-se de palavra cultuada como um deus pagão por empresas e governos.
Neoliberalismo: virou uma espécie de expressão pejorativa para designar a defesa intransigente e extremada do liberalismo, ou seja, da supremacia dos interesses individuais sobre as necessidades coletivas, do mercado sobre o Estado, da liberdade empresarial sobre o controle social das atividades econômicas. Palavra usada por nacionalistas e esquerdistas, nunca por liberais.
Boletim Mundo Ano 7 n° 6
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