Nelson Bacic Olic
A água potável é um recurso finito, que se reparte desigualmente pela superfície terrestre. Se, pelo ângulo de seu ciclo natural, a água é um recurso renovável, suas reservas não são ilimitadas. Inúmeros especialistas têm alertado para o perigo de que a super utilização e a poluição possam comprometer todas as águas superficiais do planeta por volta de 2100.
Apesar de 75% da superfície do planeta ser recoberta por massas líquidas, a água doce não representa mais que 3% desse total. O problema é que apenas um terço da água doce (presente nos rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e atmosfera) é acessível, pois o restante está imobilizado nas geleiras, calotas polares e lençóis freáticos profundos.
Atualmente mais de 50% das terras emersas já enfrentam um estado de penúria em água. De cada cinco seres humanos, um está privado de água de boa qualidade para consumo e cerca de metade da população da Terra não dispõe de uma rede de abastecimento satisfatória. Certas regiões do mundo sofrem condições dramáticas de escassez, especialmente aquelas com expressivas superfícies de clima desértico, como o Oriente Médio e África do Norte. Há países, nessas duas áreas, que vivem atualmente numa condição que certos especialistas designam de “estresse hídrico”, em função de terem disponíveis menos de 1.000 m3 de água per capita por ano . Nos Estados Unidos, o consumo total é de 1.870 m3 per capita por ano. O consumo doméstico individual atinge mais de 600 litros por dia.
O “estresse hídrico” não só prejudica a vida econômica e social desses países, como tem conduzido alguns deles a situações “hidro conflitivas”, isto é, disputas ou tensões entre Estados por fontes fornecedoras de água, especialmente rios internacionais.
Os problemas envolvendo israelenses, palestinos, sírios e jordanianos pela utilização das águas da bacia do rio Jordão, e de turcos, sírios e iraquianos em relação às bacias dos rios Tigre e Eufrates, ilustram esse tipo de situação. Muitos chegam a afirmar que os futuros conflitos no Oriente Médio serão causados pela água, não pelo petróleo.
Ao longo do século XX, a população mundial foi multiplicada por três, as superfícies irrigadas por seis e o consumo global de água por sete. Ao mesmo tempo, nas últimas cinco décadas a poluição dos mananciais reduziu as reservas hídricas em um terço.
Os recursos disponíveis atualmente poderiam ser utilizados de forma mais eficaz pela redução da poluição, introdução de processos de reciclagem das águas, melhor conservação das redes de distribuição e diminuição do desperdício. Como a irrigação é a atividade que mais consome água, há esperanças em pesquisas sobre culturas agrícolas que requerem menos água e são mais tolerantes ao sal. A dessalinização da água do mar, por ser ainda uma técnica muito dispendiosa, só é realizada em poucos países e, mesmo assim, as quantidades obtidas não cobrem as grandes necessidades.
Há ainda a técnica do “rebocamento” de icebergs, já tentada sem muito êxito pela Arábia Saudita na década de 70, mas ainda não totalmente descartada.
O Brasil detém cerca de 13% da água doce do planeta, mas isso não quer dizer que estejamos em uma situação muito confortável, pois 70% de nossos recursos hídricos situam-se na Amazônia Legal, onde vivem apenas 10% da população. O Sudeste, com 42% do contingente populacional, dispõe de apenas 6% das reservas nacionais de água. E há um problema adicional: essa região possui os mananciais mais exigidos e poluídos do país. Hoje, para abastecer São Paulo, a maior região metropolitana do país, parte da água tem que ser captada a mais de 130 quilômetros de distância.
Por isso, foi criado pelo governo federal, em 1994, um sistema de gerenciamento dos recursos hídricos.
As prioridades dessa “lei das águas” são a proteção, captação e adução da água de beber e, em seguida, o aproveitamento racional das águas subterrâneas.
No Brasil, assim como em todo o mundo, a oferta de água está se tornando uma questão estratégica.
Boletim Mundo Ano 6 n° 4
Nenhum comentário:
Postar um comentário