segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Na Indonésia, colapso monetário fermenta explosão social

O embaixador dos Estados Unidos, Stapleton Roy, não compareceu à cerimônia de juramento do general Suharto, o ditador da Indonésia, reconduzido para um sétimo mandato presidencial pela Assembléia Consultiva do Povo, em março. Washington enfatiza dessa forma a sua descrença na capacidade do velho ditador, de 76 anos, de estabilizar o país, imerso numa crise econômica sem precedentes desde o colapso monetário que desvalorizou a rupia em 75% diante do dólar. Em Jacarta, a capital, e nas maiores cidades, manifestações estudantis e populares crispam a superfície do oceano político e alimentam as especulações sobre a explosão que estaria sendo engendrada nas profundezas. Não há como deixar de recordar o banho de sangue que acompanhou a última troca de comando, em 1965, quando o então presidente Sukarno foi deposto e se iniciou a “era Suharto”.
A estabilidade da Indonésia é um dos pilares de toda a delicada arquitetura geopolítica da Ásia meridional. O arquipélago, que se estende entre os oceanos Índico e Pacífico e controla rotas marítimas nevrálgicas, só mantém fronteiras terrestres com Malásia, mas a projeção da sua influência preocupa a China, as Filipinas, Cingapura, Tailândia e a Austrália.  A Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo, com cerca de 200 milhões de habitantes.
Só na super povoada ilha de Java, onde fica a capital, são 115 milhões.
O regime nacionalista de Sukarno, instalado após a partida dos colonizadores holandeses, em 1949, se equilibrou precariamente entre a esquerda comunista em ascensão e os militares direitistas, alinhados com a estratégia de Washington de contenção da União Soviética e da China. O golpe de Estado de Suharto representou a vitória dos militares e a aniquilação física dos comunistas.
No lugar do terceiro-mundismo de Sukarno, o general implantava um modelo econômico curioso, no qual o capitalismo liberal se combinou com empresas e cartéis estatais no comando de áreas estratégicas da produção e distribuição.
Alicerçada sobre esse modelo, a Indonésia brilhou nos anos 80 e 90, saltando para dentro do comboio dos “Tigres Asiáticos”.
Entre 1970 e 1996, o PIB do país cresceu a uma taxa média anual de 6,8%. O emprego no setor secundário mais que dobrou, ultrapassando 10% da população ativa. As exportações, tradicionalmente concentradas em produtos primários - como o petróleo, o gás natural, a borracha e a madeira - diversificaram-se e passaram a incluir têxteis, calçados e eletrônicos. O crescimento econômico, antes do colapso monetário, tinha puxado para cima da linha de pobreza mais de 75 milhões de pessoas. Mas o “milagre indonésio” também tornou mais nítidas as desigualdades sociais extremas. Por isso, depois do desastre econômico, o descontentamento popular se dirige contra as duas elites do país - a “corte” corrupta de Suharto, que dirige as empresas e cartéis estatais, e os chineses étnicos, que perfazem 4% da população mas controlam cerca de metade da riqueza.
A esmagadora maioria da população da Indonésia é formada por muçulmanos.
O “fator religioso”, no ambiente da crise, direciona os ressentimentos contra a minoria chinesa. Esse é um dos elementos explosivos, que provoca calafrios internacionais.
Chineses étnicos estão espalhados por todo o leste e sudeste da Ásia, e funcionam como catalisadores dos negócios e investimentos regionais. Uma eventual implosão social da Indonésia afetaria diretamente a poderosa China.
Boletim Mundo Ano 6 n° 2

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