O PT acusa o governo de promover a explosão da dívida interna, através da política de juros altos. Dessa forma, a própria estabilidade da moeda estaria em risco. Em um eventual segundo mandato, o seu governo pretende baixar as taxas de juros? Como?
FHC - Não está havendo nenhuma explosão da dívida interna, que está estabilizada em torno de 35% do PIB. Os recursos da privatização estão sendo utilizados para o abatimento da dívida de forma que, mesmo com um déficit público ainda alto, sua relação com o PIB não se altere. A continuidade do ajuste fiscal vai permitir a estabilidade da dívida, mesmo sem os recursos da privatização, que são finitos. A partir de outubro, a queda dos juros terá um efeito maior sobre a dívida. Autoridades e representantes da comunidade financeira e empresarial do mundo inteiro têm demonstrado que acreditam na política econômica do governo brasileiro. Prova disso é que o Brasil recebeu, nos últimos anos, US$ 90 bilhões em investimentos diretos. A política cambial não muda, em um eventual segundo mandato. Ela é flexível o suficiente para acomodar as necessárias variações do dólar.
Nos últimos anos, o Brasil recebeu significativos investimentos estrangeiros diretos no setor industrial. Ao mesmo tempo, ocorreu a desnacionalização de certos setores, como o de autopeças. Qual é a avaliação do governo?
FHC - Os investimentos estrangeiros são bem-vindos.
A Constituição já não dá tratamento diferenciado a capital estrangeiro e nacional. Com a abertura, as empresas brasileiras foram submetidas a um choque de competitividade. Os produtos importados começaram a chegar mais baratos e diversificados.
As empresas também aprenderam, passaram a investir na qualidade e na redução dos preços. Isso está possibilitando preços mais baratos para a população e mais exportações. Em um primeiro momento, instala-se a idéia de que a indústria nacional vai desaparecer, mas o tempo está provando o contrário: com o aumento da competitividade, a importação de bens que podem ser produzidos aqui está se reduzindo. E nossas exportações, fundamentais para a auto-sustentação da atividade econômica e para a geração de empregos, estão crescendo.
O Brasil tem se oposto à estratégia americana de encurtar os prazos para a formação da Alca. Qual é a estratégia do governo para a integração comercial do continente?
FHC – Vamos continuar o trabalho de construção de uma rede de parcerias estratégicas com os países mais relevantes do mundo. Mas a prioridade é a América Latina. Vamos continuar trabalhando para a organização de um espaço econômico integrado e politicamente democrático na América do Sul. Esta integração e mais o Mercosul, a Alca e a reforma do Conselho de Segurança da ONU vão continuar merecendo atenção especial.
Como o governo pretende enfrentar o problema do desemprego, em um eventual segundo mandato?
FHC - O crescimento da economia é fundamental para a geração de mais empregos. Este ano vamos crescer 2%. O crescimento teria chegado a 4%, não fosse a crise asiática. Se fizermos as reformas necessárias, poderemos ter taxas maiores nos próximos anos.
Optamos por promover um crescimento gradual, mas sustentado, da economia. Estamos fazendo um ajuste importante da economia e do setor público, sem queda do PIB, coisa que não ocorreu em muitos países.
A modernização está reduzindo vagas em setores fortemente empregadores, como a indústria automotiva. O meu programa apóia setores que empregam muita mão-de-obra, como o da construção civil, de saneamento básico e de turismo.
Implementaremos um programa para duplicar as exportações até 2002.
As universidades públicas sofrem sérios problemas de financiamento, que se refletem em atividades de pesquisa e salários dos docentes. A oposição o acusa de sucatear a universidade pública, promovendo a privatização do ensino superior. Qual é o seu projeto?
FHC - O modelo de desenvolvimento brasileiro priorizou, durante décadas, a concentração do desenvolvimento científico em algumas áreas. Nunca foram feitos investimentos significativos em equipamentos e laboratórios de graduação, a ponto de muitas universidades sequer contarem com redes de computação.
O MEC tem procurado superar essas deficiências, sem deixar de atender à pós-graduação. Entre 1994 e 1998, o número de bolsas de estudo de Mestrado apresentou crescimento de 44%, enquanto o número de bolsas de Doutorado cresceu 12%.
O governo aumentou significativamente os recursos do Tesouro para as universidades federais. Eu não gosto de ficar citando números, mas apenas para se ter uma idéia, o volume de recursos orçamentários, devidamente corrigidos, cresceu de R$ 419 milhões, em 1994, para R$ 641 milhões, em 1997. Pretendemos ampliar essa política.
Mundo - O vestibular vai continuar existindo nas universidades públicas, ou isso vai depender da política autônoma de cada instituição?
FHC - A nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) acaba com o vestibular como único critério de acesso à universidade, abrindo a possibilidade de cada uma das instituições ter seu próprio processo seletivo. O MEC, por intermédio do Conselho Nacional de Educação, deve aprovar normas gerais para as universidades se adequarem.
Boletim Mundo Ano 6 n° 5
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