quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

LULA EXPLICA SEU NOVO PROJETO NACIONAL

 Como o governo Lula pretende administrar a participação do Brasil na economia globalizada?
Lula - Desde 1990, os governos Collor e FHC efetivaram uma abertura irresponsável, abrindo mão de políticas industrial, agrícola e de emprego, elevando as taxas de juros a níveis internacionalmente inigualáveis e sobrevalorizando o câmbio. Os resultados são cada vez mais visíveis: vulnerabilidade da economia brasileira, subordinação aos capitais financeiros internacionais, ruptura da estrutura produtiva, as maiores taxas de desemprego de nossa história recente, contas externas deficitárias, déficit público que já alcança mais de 7% do PIB. Nossas políticas objetivam outra forma de inserção para a economia brasileira. Cremos ser possível construir democraticamente um novo projeto nacional, que oriente estrategicamente os destinos do país, que defenda o desenvolvimento, a produção e o emprego, que assegure condições de competitividade e igualdade ao empresário e que mobilize a sociedade para ingressarmos solidariamente no século XXI.
 Qual será a política do governo Lula para o Mercosul?
Lula - Sempre fui favorável ao Mercosul. Tenho dito, no entanto, que o Mercosul não pode ser apenas uma união aduaneira. Temos de construir políticas industriais, agrícolas e de ciência e tecnologia comuns aos países-membros. O grande obstáculo que deveremos enfrentar é o protecionismo que os Estados Unidos e a União Européia praticam e que impede que nossos produtos agrícolas ou industriais possam entrar competitivamente naqueles mercados. Queremos também um Mercosul preocupado com questões sociais. Que tenha políticas ativas de emprego, que se preocupe com a saúde, a educação e o bem-estar geral de nossos povos. Nesse sentido queremos mudar as bases do Mercosul e sabemos que em todos os países da região existem forças políticas importantes que pensam da mesma maneira que nós. Com a vitória das oposições no Brasil, Uruguai e Argentina será  possível aprofundar a dimensão social do Mercosul e articular melhor políticas de desenvolvimento que nos permitam uma presença mais forte no mundo. Tenho defendido que o Mercosul comece a definir programas de intercâmbio cultural e educacional e que pense igualmente em estruturas políticas, como um parlamento, tribunais, etc.
 Não está clara a posição da candidatura Lula diante da privatização das estatais. A proposta de uma auditoria transfere o problema para o plano jurídico.
Caso uma auditoria não constate irregularidades nas privatizações, como agirá o governo Lula? Reverterá as privatizações? Todas ou algumas?
Lula - A auditoria não é uma medida jurídica. Ela é político-administrativa. Dependendo do que as auditorias constatarem, poderemos  recorrer à Justiça. O que as auditorias constatarem orientará as medidas do governo. É injusto dizer que não temos posição clara sobre as privatizações. Fomos contra a privatização da Vale, das elétricas e das teles por entendermos que são estratégicas para o desenvolvimento nacional e que deveriam ficar sob controle público.
 O ministro Pedro Malan tem explicado o crescimento do desemprego como um fenômeno estrutural, ligado à globalização e à revolução tecnológica. Qual é o diagnóstico da candidatura Lula ? Como o governo Lula pretende enfrentar o problema ?
Lula - Culpar a globalização e a inovação tecnológica visa apenas esconder o jogo. Ou o governo federal acredita mesmo que a globalização e a inovação tecnológica seriam menos intensas nos Estados Unidos ou no Japão, onde as taxas de desemprego são baixas? Ou na Europa, onde vários países vêm reduzindo suas taxas de desemprego? O atual desemprego é resultado da forma passiva da abertura e das políticas econômicas adotadas, com desprezo para com o crescimento, a produção e o emprego nacional e valorização da especulação e elevação dos juros.
Não acreditamos em políticas paliativas, como as propostas apresentadas recentemente pelo governo, de contrato e demissão temporários. Estas políticas nos levam ao pior dos mundos: ampliam a precarização das condições de trabalho e não reduzem o desemprego. Por isso, propusemos um amplo programa por mais e melhores empregos. Além das mudanças na política econômica, consideramos indispensável um Plano Nacional de Emprego, objetivando assegurar a geração de emprego e renda nas cidades e no campo e a constituição de um efetivo sistema público de emprego, que articule o seguro desemprego, a intermediação e a qualificação profissional.
 Como o governo Lula pretende organizar o acesso ao ensino superior? O vestibular seria mantido? Ou substituído por outras formas de acesso? Nesse caso, quais?
Lula - Em primeiro lugar, ampliando o número de vagas na rede pública de ensino superior. No quarto ano do meu governo, terei aumentado em 80% o número de vagas. Segundo, garantindo o cumprimento do princípio constitucional de gratuidade do ensino superior público. Terceiro, ampliando o Programa de Crédito Educativo. Quarto, vamos ter uma política de assistência estudantil, através de programas de alimentação, moradia e assistência à saúde.
Quando assumirmos, em janeiro de 1999, os exames vestibulares já estarão em curso. Porém, vamos examinar propostas alternativas e complementares de introdução de outros mecanismos de ingresso no ensino superior.
Boletim Mundo Ano 6 n° 5

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