quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

GIGANTES” DISPUTAM O CONTROLE DAS TELECOMUNICAÇÕES

“Por cerca de um século desde o seu nascimento, a rede telefônica tornou-se cada vez mais extensa, mas não muito mais sofisticada. Apenas nas duas últimas décadas emergiram três grandes inovações - o fax, o telefone celular e a Internet - que mostraram como a rede pode ser utilizada para criar novos produtos destinados a vastos mercados, que mudam o modo de vida e trabalho das pessoas. Muitas outras dessas novidades provavelmente encontram-se prestes a surgir, pois as telecomunicações constituem o núcleo da mais intensa inovação industrial jamais vista. (...) Pense nas incontáveis maneiras pelas quais a energia elétrica moldou o século XX. O impacto da revolução das comunicações nos modos de vida do próximo século será igualmente penetrante”.
(Frances Cairncross, “A connected world”, The Economist, 13.set.97, Survey, pág. 3-4)
Bolsas de valores despencam, depois sobem aos pontapés... Os dólares correm de lá para cá no mapa mundi, em busca de melhores taxas de juros...
Tudo está acontecendo muito rápido, não é ? E nada acontece tão rápido como a verdadeira revolução que vem varrendo o setor de telecomunicações, no mundo inteiro. Uma revolução que acaba acelerando o ritmo de funcionamento do planeta. O que seria dos investimentos nas bolsas de valores sem os computadores que os mandam, em instantes, da China ao Panamá ?
O número de usuários da Internet dobra a cada dois anos . Hoje são 100 milhões, devem chegar a 200 milhões no ano 2000 e, se as previsões se confirmarem, vão bater em 500 milhões apenas três anos depois. De acordo com a empresa de consultoria McKinsey, em 2005 seu computador estará operando 45 vezes mais rápido do que hoje, na Internet.
Isso cria um enorme mercado potencial.
O comércio virtual movimentou 7 bilhões de dólares em 1997 e há quem diga que a soma será superior a 300 bilhões de dólares (cerca de um terço do atual PIB brasileiro), em 2002.
Imagine o que isso representa em termos de economia com mão-de-obra, estoque, transporte...
A rapidez das transformações faz com que as empresas de telecomunicações disputem a tapa cada fatia de mercado.
As inovações custam cada vez mais caro, o que explica a atual tendência à fusão de empresas do setor, seja com companhias do mesmo ramo, seja com bancos e grandes corporações industriais. A idéia é estar melhor posicionado para a nova fase de globalização econômica.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada, em substituição ao velho Acordo Geral de Comércio e Tarifas (GATT) para criar novas regras, liberalizando as transações comerciais. Entre essas regras está o Acordo Global de Telecomunicações, assinado em 1997 por 68 países, com o objetivo de reduzir os impostos e leis que dificultam a entrada de capitais estrangeiros nesse setor. Além de incentivar a privatização das estatais de telecomunicação, onde  isso for possível.
É claro que os países mais ricos, onde estão as maiores corporações do setor, são os grandes beneficiados pelo Acordo, já que podem oferecer serviços e equipamentos a preço mais baixo e têm amplos financiamentos para suas operações. Mas se algum país quer aproveitar os ventos da globalização para, digamos, vender mais arroz ou calçados na União Européia, Estados Unidos ou Japão, tem de engolir também o Acordo de Telecomunicações.
As maiores  empresas globais do setor concentram-se nos países ricos). Agora, vamos observar o que aconteceu no processo de privatização de estatais na América Latina. A Bell South americana, sexta do ranking, é sócia da Movicom (telefonia celular em Buenos Aires, Argentina, e em Montevidéu, Uruguai), da Otecel (Equador), da BSP panamenha (telefonia celular), da Tele 2000, que presta vários tipos de serviços de comunicações no Peru, e da Telcel celular, da Venezuela. Controla a Bell South Celular, no Chile, e o sistema de telefonia fixa da Nicarágua.
Já a MCI, também americana, é sócia da Avantel (ligações de longa distância), no México, da Multicanal e da Telefónica Argentina, da Belize Tellecomunications, CANTV (Venezuela) e da Cia de Telecomunicaciones de Chile. E a Telecom Itália é sócia da  Telecom Argentina, da Entel Bolívia e Entel Chile, além da Etecsa, que opera telefonia celular em Cuba.
Em alguns países, como a Espanha, empresas de grande porte de ramos diferentes, associaram-se na perspectiva de abocanhar um pedaço desse mercado, um dos mais lucrativos do mundo. O Banco Bilbao Vizcaya tem 7% das ações da Telefónica  de España; outros 10% da empresa são da Ibedrola (da área de energia elétrica e telecomunicações) e 7% pertencem à Repsol (petróleo e gás).
Juntos, eles formaram um peso-pesado ibérico que adquiriu a Telefónica de Argentina, a CTC do Chile e a  Telefónica del Peru. Não por acaso, antes de associar-se às empresas compatriotas, a Telefónica de España havia perdido parte do mercado em seu próprio país para empresas americanas e inglesas.
Foram esses grandalhões das comunicações globais que deram o tom na privatização do sistema Telebrás, no Brasil, em julho . A Telefónica de España, que já era sócia da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), comprou o sistema de telefonia fixa da Telesp, a Tele Sudeste Celular e a Tele Leste Celular.
A MCI levou a Embratel e a NTT japonesa associou-se aos espanhóis na Tele Sudeste Celular. Uma fatia menor ficou com grandes grupos brasileiros. O Bradesco e a Globo compraram a Tele Celular Sul e a Tele Nordeste Celular, associados à Telecom Itália, que também adquiriu a Tele Centro Sul.
E não se pense que estamos falando apenas em corporações na área de telecomunicações. O conglomerado espanhol está investindo pesado nos setores de energia elétrica, gás e no setor bancário, no Brasil. A MCI e a NTT estão associadas aos grandes bancos e indústrias pesadas em seus países. Moral da história: as telecomunicações avançam em um ritmo impressionante.
E quanto mais rápido é o avanço, menor é o número de pilotos do processo.
Pilotos-empresas, aliás, cada vez maiores. Pense nisso na hora de dar seu próximo telefonema.
Boletim Mundo Ano 6 n° 6

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