José Arnaldo Favaretto
Na história da vida, a extinção de espécies é um evento natural. De todas as linhas evolutivas já existentes, mais de 99,9% tornaram-se completamente extintas. Acredita-se que há na Terra, atualmente, de 5 a 30 milhões de espécies de seres vivos, embora pouco mais de 1,5 milhão tenham sido descritas. Entretanto, pelo que se observa no registro fóssil, mais de 500 milhões devem ter existido, desde o início do Cambriano, há cerca de 600 milhões de anos. A taxa de extinção média é, portanto, inferior a uma espécie ao ano. Evidentemente, tal média não reflete o que realmente ocorre, pois a perda da diversidade biológica não é uniforme, mas pontuada por diversos momentos de desaparecimento em massa.
Em 1979, Walter e Luiz Alvarez, da Universidade de Berkeley (Califórnia), exploravam uma caverna em Gubbio, na Itália, quando se depararam com a provável solução de um dos mais intrigantes dilemas da ciência: o que matou os dinossauros?
Em uma camada de sedimentos não mais espessa que 1 cm, encontraram quantidades anormalmente elevadas de irídio, elemento químico quase ausente nas rochas terrestres, mas bastante comum em fragmentos de corpos celestes, como meteoros. A datação radiativa dessa camada não deixou dúvidas: tinha aproximadamente 65 milhões, na transição entre o Cretáceo e o Terciário (também chamada “fronteira K-T”). É a época correspondente ao desaparecimento dos grandes répteis que viveram nos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo da Era Mesozóica, extinguindo-se subitamente na passagem para a Era Cenozóica. Análises de outros sedimentos desse mesmo período, obtidos em diversos locais do planeta, também mostraram altas concentrações de irídio. Apenas uma coincidência?
Segundo hipótese defendida por Alvarez e outros pesquisadores, um meteoro de 10 quilômetros de diâmetro chocou-se com a Terra, perto da Península de Yucatán, no México, abrindo uma cratera de 200 km de diâmetro. Uma série de intensos terremotos sacudiu o planeta, ocasionando ondas oceânicas gigantescas (os tsunamis), que assolaram as regiões litorâneas. A energia liberada no impacto deve ter correspondido a dez mil vezes todo o arsenal nuclear hoje existente. A quantidade de partículas geradas formou uma nuvem que permaneceu suspensa, na atmosfera, por meses ou anos. A obstrução da radiação solar pela camada de poeira causou um rápido resfriamento da superfície (o inverno nuclear).
A atividade fotossintetizante foi quase totalmente interrompida, reduzindo drasticamente a quantidade de alimentos disponíveis para as cadeias alimentares. Em um curto período de poucos meses, desapareceram mais de 75% de todas as espécies então existentes.
Os animais viventes no Cretáceo foram abruptamente divididos em “perdedores” e “vencedores”.
Dinossauros, amonites, pterossauros e pleissossauros estavam no primeiro grupo; no segundo, estavam bivalves, peixes, lagartos, aves e mamíferos. Estes últimos, em particular, possuíam ferramentas adaptativas úteis nos difíceis tempos pós-impacto. Sua homeotermia permitiu a sobrevivência em abrigos subterrâneos. Aproveitando os nichos ecológicos esvaziados, passaram a se diversificar e ocupar os mais diversos ambientes terrestres, aquáticos e aéreos, antes dominados pelos dinossauros.
Talvez esse seja o mais conhecido episódio de extinção em massa e podemos ficar satisfeitos por ter ocorrido. Mas não foi o único. A comunidade terrestre já atravessou dezenas de episódios semelhantes, alguns ainda mais brutais que a extinção da fronteira K-T. É o caso das extinções do Ordoviciano, Devoniano e Permiano, na Era Paleozóica.
Além das extinções gigantescas, outros períodos menos agudos de extinções em massa por causas naturais repetiram-se aproximadamente a cada 26 milhões de anos.
Diversas possíveis explicações já foram propostas. Algumas relacionam as extinções com os longos ciclos que a Terra percorre em sua viagem pelo espaço, atravessando cinturões de asteróides ou regiões com mais quantidade de radiações e poeira cósmica. Outras associam tais eventos com fatores terrestres, como as glaciações, as regressões e transgressões marinhas, a acentuação da atividade vulcânica ou da tectônica das placas que compõem a crosta terrestre.
O NOVO ARMAGEDDON
Com o surgimento do Homo sapiens, a velocidade de desaparecimento de espécies acelerou-se. Segundo o biólogo Edward O. Wilson, a atividade humana vem reduzindo a biodiversidade da Terra a uma taxa de 27 mil espécies ao ano . Nesse ritmo, por causas exclusivamente humanas, chegaremos ao ano 2020 com menos de 70% das que são atualmente conhecidas!
A extinção antropogênica (ou seja, relacionada com a atividade humana) tem duas causas principais:
• Alteração do hábitat. Quando a atividade humana degrada um certo hábitat, com destruição de matas ou despejo de poluentes, torna-o inadequado à sobrevivência de animais ou plantas. Se uma determinada espécie for endêmica do local, ou seja, só existir ali, poderá ser extinta. Eventualmente, a atividade humana altera de tal forma o hábitat que impossibilita a vida de alguma espécie. Um exemplo é a introdução, no ecossistema, de um competidor ou predador de espécies endêmicas.
• Destruição predatória e indiscriminada. Acontece, por exemplo, quando os membros de um grupo animal são intensamente caçados, ou as árvores de uma espécie de planta são derrubadas para a obtenção de madeira.
Estamos assistindo a um novo e cruel recrudescimento na perda da biodiversidade. Todavia, desta vez, as causas são exclusivamente humanas. Como disse Edward O. Wilson, “a destruição de espécies é a tolice pela qual nossos descendentes menos irão nos perdoar”.
Boletim Mundo Ano 7 n° 3
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