Capital estrangeiro vai decidir os destinos de Cuba
Há cinco anos, Cuba ingressou no “período especial”. O eufemismo, criado pelo Partido Comunista, designa a crise terminal de um sistema apoiado sobre dois pilares: a estatização geral da economia e o influxo de subsídios soviéticos.
A Revolução de 1959, que derrubou a ditadura de Fulgencio Batista e conduziu Fidel Castro ao poder, derivou do nacionalismo ao alinhamento integral com a antiga União Soviética. Sob o fogo do bloqueio econômico e das ameaças militares dos Estados Unidos, o regime castrista aninhou-se no escudo protetor de Moscou, transformando a ilha na vitrine caribenha do socialismo.
A economia pré-industrial e dependente das exportações de açúcar foi atada politicamente ao bloco soviético. Por três décadas, o comércio administrado e os empréstimos perdoados transferiram cerca de 5 bilhões de dólares anuais da superpotência comunista para a vitrine caribenha.
A ‘‘festa’’ acabou em 1991, com a implosão soviética. Cuba perdeu o petróleo barato, os mercados garantidos para as exportações agrícolas e os empréstimos subsidiados. A decretação do “período especial” assinalou o início da jornada que conduz a ilha ao seu ambiente original: a América Latina, o Caribe, a miséria. Do outro lado do estreito da Flórida, os emigrados cubano-americanos de Miami, que somam 1,2 milhão, aguardam a conclusão política dessa trajetória: o reingresso do país na esfera estratégica dos Estados Unidos.
A ditadura castrista manobra para iludir o destino. Há um ano, a liberação da posse de dólares inaugurou as reformas econômicas, cuja meta consiste no estabelecimento de uma parceria entre o Estado e o capital estrangeiro. Nas condições do bloqueio econômico americano, os capitais europeus -especialmente espanhóis- assumem a vanguarda dos investimentos na ilha, concentrados no setor do turismo. A “via chinesa” escolhida por Fidel Castro implica a substituição gradual da moeda nacional -o peso, atado à lógica da economia estatal pelo peso convertible, atado ao dólar na cotação de 1 para 1. A redução brutal da oferta de produtos em pesos cubanos divide a população em duas classes, separadas pelo critério da posse de dólares: a miséria absoluta ronda a maioria que só tem acesso à moeda em extinção.
A nova economia do dólar ergue, aos poucos, uma ponte sobre o estreito da Flórida. O mercado negro que floresce na ilha, ao lado das 145 atividades privadas familiares recém-liberadas, transferem imperceptivelmente o controle da economia para os emigrados de Miami. A médio prazo, é lá que se encontra a chave do futuro de Cuba. Fidel sabe disso: emissários do regime já negociam, secretamente, com os líderes moderados da emigração e com o governo de Bill Clinton.
Boletim Mundo Ano 3 n° 4
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