Valorização do Iene enterra modelo que garantiu sucesso do Japão no pós- Guerra
O Japão atravessa o seu ‘’inferno astral’’. Depois da tragédia de janeiro -quando o terremoto de Kobe matou mais de 5 mil pessoas e feriu 33 mil- o terror atacou o metrô de Tóquio em março, intoxicando mais de 5 mil pessoas com o gás sarin e provocando a morte de 12 delas. Os desastres acentuaram o pessimismo que se instalou há mais de três anos, como reflexo da primeira grande recessão desde os “choques do petróleo” dos anos 70. A recessão de 1991-93 atingiu a economia mundial, mas, depois que, há pouco mais de um ano, os Estados Unidos e os países da Europa ocidental retomaram o crescimento, os nipônicos continuam a patinar na estagnação.
Nos últimos doze meses, o PIB do Japão cresceu 0,9%, o pior índice do G-7 (grupo das sete maiores economias), muito distante dos 4,1% dos Estados Unidos.
Paradoxalmente, a estagnação japonesa se faz acompanhar pela valorização do iene frente ao dólar.
Desde que, no final do ano passado, atravessou pela primeira vez a barreira psicológica dos 100 ienes por dólar, a moeda passou a se valorizar ainda mais depressa, chegando a cotações que ninguém ousava prever. De setembro de 1992 a abril passado, o iene subiu mais de 30%. A estagnação econômica e a valorização monetária assinalam o fim do modelo de desenvolvimento japonês do pós- Guerra, baseado na conquista dos mercados externos através da sub valorização cambial. Os produtos japoneses beneficiavam-se do valor artificialmente baixo do iene para invadir o mercado consumidor americano. Essa política, ao solapar o poder aquisitivo da população, funcionava como barreira às importações.
O resultado desse modelo transparece nas contas japonesas e americanas. O Japão exibe imensos saldos comerciais (mais de 140 bilhões de dólares no último ano) e, em conseqüência, um enorme saldo positivo na conta corrente.
Os Estados Unidos exibem recordes comerciais negativos (mais de 172 bilhões de dólares no último ano) que se refletem no buraco sempre maior da conta-corrente.
Isso vai mudar. A supervalorização do iene tende a destruir a vantagem competitiva das empresas japonesas no exterior, reduzindo os saldos comerciais. A moeda mais forte amplia a capacidade de consumo do mercado interno, forçando as importações. As empresas nipônicas, encontrando dificuldades no mercado externo, terão que dar mais importância ao mercado interno, onde enfrentarão a concorrência dos importados.
Nisso consiste o próximo terremoto japonês, que vai ameaçar tradições como a do emprego vitalício.
Boletim Mundo Ano 3 n° 3
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