sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Greenpeace- França transforma atol em lixo

Guilherme Fiúza
Conta uma antiga lenda japonesa que, certa vez, um homem descobriu um estranho buraco numa rua de sua cidade. Curioso, tentou em vão tocar o seu fundo. Debruçou-se, e gritou: “Há alguém aí  embaixo?’’. Não obtendo resposta, atirou objetos para calcular a altura do buraco em função do tempo que levassem para bater no fundo. Mas, os objetos sumiam sem produzir ruído. A vizinhança e a cidade logo passaram a atirar ali os seus dejetos. Meses depois, o homem postou-se diante do buraco e ali ficou,  a refletir sobre a fama que a descoberta lhe trouxera. De repente, um gigantesco saco de lixo desabou sobre sua cabeça. Atônito, ouviu uma voz ecoar ao longe, como que vinda do céu: “Há alguém aí embaixo?’’.
A fábula tem um significado rico para o mundo atual. Se o problema do lixo é preocupante nas cidades, o do lixo nuclear é alarmante. O mundo ainda não encontrou uma solução para os resíduos radiativos. O buraco mágico da fábula é a representação perfeita das próximas gerações -e do legado moral que estão recebendo, como se o futuro fosse um buraco sem fundo.
Há vários depósitos no planeta onde este tipo de material é guardado em segurança relativa e vulnerável a longo prazo. E há outros onde está depositado sem controle. Este é o caso do atol de Moruroa, na Polinésia francesa, Pacífico Sul. Como resultado de 123 testes nucleares subterrâneos, realizados pela França entre 1974-91, o núcleo do atol transformou-se em depósito de lixo radiativo, fora de qualquer especificação cientificamente aceitável.
Segundo o governo francês, não há riscos de liberação da radiatividade para o oceano -e, conseqüentemente, para outras regiões. A contaminação radiativa segundo Paris- é uma característica dos testes atmosféricos (de superfície), abandonados em 1974 por pressão de ambientalistas (particularmente, do Greenpeace). De fato, a contaminação atmosférica é imediata e de longo alcance. Cientistas constataram a presença de radiação na América do Sul poucas horas após a realização de testes nucleares no Pacífico Sul.
Mas -apesar das restrições impostas pela França-, missões científicas já colheram evidências de que os vazamentos ocorrem também nos testes subterrâneos.
Em outubro de 1990, cientistas do Greenpeace, a bordo do navio Rainbow Warrior,encontraram Césio-134 e Antimônio-125 em amostras de plâncton coletadas fora da zona de exclusão de 12 milhas do atol. Outras missões -como já foi lembrado pelo Greenpeace neste boletim- constataram rachaduras na estrutura do atol, intensificando riscos de vazamento nuclear. No início de agosto, mais de 70 cientistas de várias partes do mundo, sob a coordenação de Paul Johnston, do laboratório do Greenpeace na Universidade de Exeter (Grã-Bretanha), enviaram um apelo ao presidente francês Jacques Chirac.
O documento pede que os atóis de Moruroa e Fangataufa sejam liberados para a realização de um estudo de impacto ambiental, para que as reais conseqüências dos testes nucleares sejam medidas.
Boletim Mundo Ano 3 n° 5

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