Para ganhar, neogaullistas vestem a camisa da Europa
O prefeito de paris, Jacques Chirac, “rouba” o discurso da esquerda e é o favorito nas presidenciais de 23 de abril (1o turno) e 07 de maio
No início de abril, as pesquisas de intenção de voto indicavam três favoritos à Presidência da República na França, nas eleições de 23 de abril (primeiro turno) e 7 de maio: o socialista Lionel Jospin, 57 anos, e os neogaullistas (herdeiros políticos do ex-presidente Charles De Gaulle) Edouard Balladur, 65, atual primeiro-ministro, e Jacques Chirac, 62, prefeito de Paris. Chirac reunia as maiores chances de chegar à chefia do Estado (que disputou nas urnas e perdeu em 1981 e 88). O prefeito habilmente temperou suas propostas, para se tornar mais palatável aos indecisos da esquerda e aos que temem que o nacionalismo neogaullista comprometa a unificação da Europa.
Para entender melhor o que está em questão nestas eleições, vejamos, primeiro, o que não entra na temática eleitoral.
A França já tem escolas e universidades para todos. Seu sistema de saúde é exemplar.
Dispõe do melhor sistema ferroviário e de transportes urbanos do mundo e de 53 usinas termonucleares que a abastecerão de eletricidade até o ano 2100.
As prioridades são outras. A incorporação de novas tecnologias e a adoção de modelos mais enxutos de empresas -como forma de ser competitiva no mercado internacional-, tornaram crônico o desemprego, que hoje atinge 12,5% da mão-de-obra. Trata-se, também, de saber de que forma dividir as riquezas incorporadas ao patrimônio nacional. É um tema que tradicionalmente teria insuflado oxigênio no balão eleitoral das esquerdas.
Mas não é isso que vem ocorrendo.
O Partido Socialista está desgastado após 14 anos de François Mitterrand.
Foram dois mandatos permeados de escândalos financeiros, prejudicando Jospin. Quanto ao Partido Comunista, seu líder e candidato François Hué não conseguiu se desfazer da imagem de viúva da ex-União Soviética e deve amargar 8% dos votos.
Balladour é um tecnocrata, com a imagem de quem decide em nome da eficiência e que ignora as injustiças sociais ricocheteadas pelas políticas que vem implementando, desde 1993, como chefe do governo. A bola então caiu nos pés de Chirac. Ele se apropriou do discurso capaz de consolar a população mais pobre.
É o único que obtém pontos ao reiterar que o crescimento econômico não deve apenas beneficiar a minoria. Tem ainda, a seu favor, o fato de ter sido premiê entre 1986 e 88, quando reverteu o processo de estatização que os socialistas aplicaram a partir de 1981, sem que isso tenha implicado mais pobreza ou perda do controle estatal sobre a política industrial.
Em termos institucionais, a França é um país de certa singularidade. Quem governa é o premiê e seu gabinete, mas pela Constituição da 5ª República (1958), feita sob medida para De Gaulle, o presidente dispõe de legitimidade para falar em nome dos franceses no plano internacional.
Com isso, quanto maior a inserção na União Européia (bloco de 15 países da Europa ocidental), maior a importância política e simbólica do chefe de Estado.
Os neogaullistas, a rigor, nunca se opuseram à Europa. De Gaulle, no início dos anos 60, foi um dos arquitetos do Mercado Comum. Mas na época ele disputava a hegemonia com uma Alemanha, que hoje, após a reunificação, tornou-se obviamente mais forte. Chirac foi, nos últimos dois anos, porta-voz dos setores que não queriam ver a França atrelada aos interesses alemães. Chegou a propor um referendo sobre a união monetária (todos os países com a mesma moeda, a partir de 1999), prevista no Tratado de Maastricht (1991). Mas recuou porque a jogada desagradaria aliados da indústria e do setor de serviços.
Ora, a construção da Europa unificada foi a única bandeira com pleno êxito levantada por Mitterrand. Ao se tornar partidário, aparentemente, da unificação, Chirac inutilizou os cartuchos que os socialistas preparavam contra ele.
Chirac e Balladur pertencem ao mesmo partido, mas a lei não impede que ambos saiam candidatos. Para concorrer, basta obter a assinatura de 500 detentores de mandatos eletivos.
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