sábado, 29 de janeiro de 2011

Internet, o Canto de Sereia do Novo Mundo sem Fronteiras

Internet é uma prova de que o Estado- nação agoniza. Se o seu ritmo atual de crescimento for mantido, por volta do ano 2000 a rede eletrônica estará agregando cerca de 800 milhões de pessoas, todos manipulando (mais ou menos) o idioma inglês. Qualquer um poderá discutir qualquer coisa -da última descoberta da mecânica quântica até futebol, sexo ou, digamos, filmes em exibição- com ‘‘amigos’’ virtuais em Pequim, Calcutá, Nairóbi ou Ribeirão. A Internet já é o maior supermercado do mundo. Através da rede, pode-se encomendar produtos em qualquer ponto do planeta  livros, discos, ingressos para shows, passagens aéreas, reservas em restaurantes etc. Não há limites. A Internet apagou as fronteiras nacionais.
A ‘‘aldeia global’’ anunciada nos anos 60 por Marshall McLuhan já é realidade.
Devagar com o andor. O quadro descrito acima apenas percorre a superfície do ‘‘fenômeno’’ Internet. Mesmo que se deixe de lado o aspecto cultural -isto é, o país que domina a tecnologia exporta junto com ela a sua percepção de mundo-, basta raspar um pouco o verniz, e o que se revelará em seguida é a permanência da desagradável disputa de interesses entre países -como vem acontecendo desde que o Estado existe.
Veja, por exemplo, a ‘‘guerra dos chips’’ (unidades de memória fabricadas com semicondutores). Até meados de 1995, os cinco grandes produtores de chips do Japão (Nec, Toshiba, Hitachi, Fujitsu e Mitsubishi) registravam lucros fabulosos. Mas os nipônicos começaram a perder a corrida para os americanos (que estão investindo pesado em novas tecnologias digitais), sul-coreanos e taiwaneses (que estão inundando o mercado com chips baratos). Mais ainda: em meados do ano expira o Internet, o canto de sereia  do ‘novo mundo’ sem fronteiras acordo nipo-americano para a comercialização de semicondutores, e Washington faz uma tremenda pressão para obter vantagens. Só que 75% dos lucros totais dos ‘‘cinco grandes’’ nipônicos dependem dos chips. Se eles perderem a corrida, será uma catástrofe para a já problemática economia de seu país.
Mas, para além dos problemas específicos do mercado de informática, há uma questão geral que os ‘‘eufóricos da Internet’’ tendem a esquecer: nenhuma rede virtual apaga as desigualdades que teimam em dividir o planeta (e os países) entre pobres e ricos, como observa o prof. Ricardo Alvarez. E é no setor crucial de Pesquisa e Desenvolvimento que a desigualdade explicita o seu mecanismo auto-reprodutor, como mostra a tabela.
Quanto mais pobre o país, mais distante estará do admirável novo mundo da tecnologia.
A ‘‘Internet euforia’’ é um canto de sereia que não resiste à mais simples análise. O Estado nação pode ter mudado suas feições, mas está longe da agonia.
Boletim Mundo Ano  4 n° 1

Nenhum comentário:

Postar um comentário