Peter Pan não quer crescer. Quer que seu mundo seja para sempre pleno e alimentado pela cornucópia da imaginação. Mas alguém o atrapalhou: o capitão Gancho, que o obrigava a se dar conta de que há mais na vida do que a satisfação distraída dos desejos.
O mundo de Gancho é o de todos contra todos – repleto de feras famintas e instintos inconfessáveis. Neste mundo, não há plenitude possível. Só há perda. O próprio Gancho perdeu uma das mãos.
Peter Pan e Gancho são representações metafóricas. Não existe o mundo pleno de um nem a crueldade total do outro. Mas, como em toda fábula, eles nos ensinam algo – pois as fábulas são apenas formas narrativas dos conflitos que atormentam a alma humana.
Muitos gostariam de ser como Peter Pan.
Não querem, por exemplo, assumir responsabilidade por uma opção no Vestibular. Não gostam de pensar nas responsabilidades futuras.
O Vestibular, como uma espécie de Gancho, só atrapalha os sonhos de felicidade eterna.
Mas optar é preciso – e, se necessário, sentir a dor de uma eventual perda. “Perda” poderia significar uma eventual reprovação ou uma escolha equivocada de carreira. Nada disso é terrível. Para perder – como para morrer – basta estar vivo. Terrível – isso sim – é não levar a sério o próprio desejo, não lutar por aquilo que se quer.
A única saída é rejeitar tanto a fantasia adolescente de Peter Pan quanto o rancor senil de Gancho pela vida. Optar e lutar, sim. Ganhar ou perder – isso é o que menos importa.
Pois, como diz o poeta, só navegar é preciso
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