Debate dos caminhos da informática faz aflorar conflito entre grandes potências e atualiza dilema da regulamentação
No início, foi o chip. O primeiro computador pessoal (PC), o Altair, construído há exatas duas décadas, inaugurou a era da informação.
No último fim de semana de fevereiro, a informação globalizada tornou-se tema de uma conferência especial do G7 (grupo das sete maiores economias), reunida em Bruxelas (Bélgica).
Americanos, europeus e japoneses reconhecem no mercado mundial da informação um novo foco de disputa geopolítica.
A informação globalizada é fruto de um conjunto de inovações tecnológicas: a capacidade crescente de armazenagem de dados dos chips miniaturizados, a integração da informática e das telecomunicações por satélite, a substituição dos cabos telefônicos de cobre pelos feixes de fibras óticas, o desenvolvimento dos softwares de multimídia. O horizonte da sociedade da informação parece ilimitado. As novas tecnologias prometem transformar o modo como trabalhamos e estudamos, como fazemos compras, nos divertimos e namoramos. A estrela do momento é a Internet (International Network), a “super autopista da informação” que interliga cerca de 30 milhöes de computadores pessoais nos cinco continentes. Ela representa a infra-estrutura crucial da sociedade da informação e concentra a disputa geopolítica em gestação.
Os Estados Unidos encontram-se na dianteira da corrida pelo mercado mundial da informação.
O Japão, que há vinte anos escolheu concentrar os investimentos de alta tecnologia na mecatrônica e robótica industrial, parece ter optado pelo atalho errado. Essa opção que reflete a natureza hierarquizada da sociedade japonesa e a prioridade do setor industrial nas estratégias de desenvolvimento do Estado- provocou um atraso significativo na disfunção dos equipamentos e das redes da informação no arquipélago.
O problema da UE (União Européia) está em outro lugar: a escala reduzida dos mercados nacionais e a falta de estratégias supranacionais integradas.
A Internet funciona como vanguarda da globalização da informática. A “super autopista” não tem regulamentação ou controle oficial: qualquer pessoa, com um PC e uma linha telefônica, pode se conectar à rede internacional através dos serviços de telefonia por satélite. Pilotando seu computador pessoal, pode acessar todas as bases de informação disponíveis e também pode transmitir textos e imagens para qualquer outro usuário, situado eventualmente no outro lado do mundo. Esse caráter anárquico da Internet é a fonte da sua força expansiva, do apelo e da sedução que exerce sobre milhões de indivíduos, atravessando fronteiras políticas e ignorando a vontade dos governos e dos Estados.
A Internet tem pátria, ainda que tente camuflar a sua nacionalidade. Basta dizer que a maioria das informações transmitidas pela “super autopista” global circula entre usuários domiciliados no Vale do Silício, a região californiana adjacente a São Francisco, onde se concentram os fabricantes de chips e softwares dos Estados Unidos. A anarquia invasiva da Internet serve aos interesses da potência que tem a dianteira no mercado mundial da informação.
Como os caubóis e pioneiros do velho oeste, os “micreiros” da Internet são desbravadores de fronteiras.
Eles transportam na bagagem a cultura da sua própria terra e cravam a bandeira do império da informação nos novos territórios conquistados.
Atrás deles, desembarcam os fabricantes de software e os industriais do entretenimento.
Como os corajosos apaches, japoneses e europeus temem a perspectiva da humilhação e do confinamento em reservas tribais.
Esse é o pano de fundo do debate inaugurado pelo G7. O comunicado do vice-presidente Al Gore, da decisão de liberação do mercado americano de telecomunicaçöes para os países que oferecerem reciprocidade, conferiu a Washington a iniciativa diplomática. As conclusões da conferência, expressas em 8 princípios e 11 projetos de cooperação, representam um compromisso passageiro entre os interesses em conflito. Os Estados Unidos, defensores da expansão desregulamentada da sociedade da informação, cravaram entre os princípios a promoção da concorrência, o estímulo aos investimentos privados e o acesso ilimitado às redes. A França, que age como representante de interesses nacionais e empresariais europeus, encaçapou o princípio da diversidade de conteúdos, de idiomas e culturas nos fluxos globais de informação.
O Japão, que tenta desacelerar a difusão dos computadores pessoais e a conexão às redes pela população do arquipélago, foi visado diretamente pelo princípio aprovado do direito individual de acesso às redes.
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