segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Greenpeace Denúncia- Ganância ameaça extinguir Mogno

Em busca de lucro fácil,  madeireiras invadem áreas protegidas e reservas indígenas da floresta amazônica, e fazem o corte predatório do mogno, uma árvore multissecular com alto preço no mercado .
LIBE FERNANDA SEDREZ
Em 12 de novembro de 1992, a Greenpeace Brasil iniciou a Campanha Contra o Corte Predatório de Madeira. Na época, foi lançado um manifesto, com outras 72 ONGs (Organizações Não Governamentais), traçando um histórico da exploração madeireira no Brasil, causadora de extinção de espécies e devastação de ecossistemas.
O objetivo era questionar e diminuir o ritmo assustador de destruição da Amazônia: só nos últimos vinte anos, a devastação foi dez vezes maior do que nos 470 anos anteriores. A indústria madeireira, que contribuiu para o esgotamento das florestas nativas do Sul e Sudeste do país, tem grande responsabilidade. Nas últimas duas décadas, a exploração migrou para a Amazônia, onde milhões de árvores seculares, como o mogno e a cerejeira, são derrubadas sem a menor preocupação com a preservação da floresta.
O impacto do corte predatório é enorme. Muitas espécies de animais e plantas são extintas; áreas protegidas e reservas indígenas são invadidas; comunidades de seringueiros e ribeirinhos são roubadas com violência e morte; estradas são rasgadas caoticamente, abrindo caminho para especuladores e latifundiários. Em face disso, as comunidades que dependem da floresta se uniram em sua defesa. A coalizão de 1992 conta hoje com entidades ambientalistas, de trabalhadores rurais e seringueiros, grupos de apoio a comunidades indígenas.
O mogno (Swietenia macrophylla), apelidado como “ouro verde”, foi escolhido como alvo-símbolo por ser uma das espécies mais valorizadas. No corte de uma árvore de mogno, em média vinte e oito árvores são danificadas, pelo menos uma área protegida é invadida e 1.450 m de florestas são devastados. Menos da metade da madeira chega ao consumidor: o resto é abandonado na floresta ou perdido nas serrarias.
Depois de um ano de campanha, a situação começa a mudar. Algumas vitórias judiciais condenando invasões de reservas indígenas, e uma campanha de consumo eficiente na Europa obrigaram muitas madeireiras a assumirem o compromisso de “não comprar ou cortar madeira oriunda de áreas indígenas”. As companhias européias importadoras de mogno, pressionadas por seus consumidores, assumiram o compromisso de não negociar com madeireiras que não tenham assinado este acordo.
Com seu mercado exterior pressionado, as madeireiras estão se voltando para o mercado interno, em especial o Estado de São Paulo, que, sozinho, consome um terço da produção. Em outubro de 1993, a Greenpeace Brasil iniciou a segunda fase da campanha: no dia 2, cem ativistas invadiram pacificamente o Shopping Lar Center, em SP. Esta segunda fase tem dois objetivos. O primeiro é estimular uma consciência de consumo. Os produtos que usamos no dia-a-dia provêm de alguma forma da natureza, e nós temos o direito e o dever de exigir que eles não sejam produzidos de forma desastrosa para o meio ambiente. O segundo objetivo é criar uma “cadeia de pressão” que faça com que a produção ilegal de madeira não seja mais economicamente viável. Se as pessoas se recusarem a comprar o mogno de reservas indígenas, a devastação destas áreas deixa de ser um grande negócio.
Ainda não existe nenhum tipo de certificado de origem para a madeira usada nas lojas. E nem existirá, se os consumidores não o exigirem. Consumidores, designers, arquitetos, fabricantes e vendedores têm um papel na “cadeia de pressão”. Graças a pressões deste tipo, a industria de papel em todo o mundo tem sido obrigada a modificar seus métodos poluentes, e a produção de casacos de peles de animais em extinção sofreu um grande golpe. Aos poucos, o consumidor deve entender que uma sala de jantar em mogno, com alto custo de violência e devastação, não é nada elegante.
Libe F. Sedrez é assistente da Coordenação da Campanha de Florestas da Greenpaece para América Latina.

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