Ruy de Góes
O ano de 1995, 50 anos depois do ataque atômico a Hiroxima e Nagasáki (em agosto), tem grande importância no que se refere à luta anti nuclear. Em 17 de abril foi aberta, em Nova York, a Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que decidirá como a questão será manejada nos próximos anos. Sua renovação por prazo indefinido foi eleita como prioridade pelo governo Clinton, enfrentando a oposição de diversos países que não possuem armas nucleares.
O TNP entrou em vigor em 1970, e conta hoje com a adesão de 147 países.
Foi elaborado durante a Guerra Fria, para impedir que as armas nucleares se multiplicassem pelo mundo.
Os signatários concordam em não ter armas nucleares. As potências nucleares da época -EUA, URSS, Grã-Bretanha e China- comprometiam- se a fazer ‘‘os esforços possíveis’’ rumo ao desarmamento.
Acordou-se, também, um prazo de 25 anos para a vigência do tratado.
Mas seu caráter discriminatório, que prevê condições diferenciadas para países com e sem armas, fez com que diversos governos não o assinassem.
Entre eles, o brasileiro.
Um balanço destes anos mostra um resultado sofrível: o número de armas nucleares é hoje maior do que em 1970; a Índia, o Paquistão, Israel e África do Sul entraram para o ‘‘clube’’ nuclear; outros, como Coréia do Norte e Iraque chegaram perto de fabricar suas bombas.
Segundo as potências nucleares, a não ratificação do TNP por prazo indefinido seria o sinal para uma nova escalada na corrida armamentista.
Alguns países defendem a renovação do TNP por períodos curtos, sempre condicionada a uma avaliação de seus resultados. Seria um meio de cobrar das potências os seus compromissos de desnuclearização. Diversas organizações não governamentais (ONGs), entre elas o Greenpeace, apóiam a proposta, e pedem o estabelecimento de prazos concretos rumo ao desarmamento. Um dos passos seria a proibição de produção de materiais físseis -ou seja, plutônio e urânio altamente enriquecido-, que podem ser usados como combustíveis para novas armas.
Navio da morte
Este tema foi alimentado pelo polêmico transporte de lixo atômico pelo navio Pacific Pintail, que passou recentemente pelas costas brasileiras. Este lixo é resultante da separação de plutônio a partir de combustível nuclear, segundo um processo de tecnologia japonesa e usado em usinas na França e Inglaterra. O contrato entre os japoneses e aqueles países prevê que o plutônio e parte do lixo resultante voltem ao Japão. De acordo com os planos, haverá transporte da carga uma vez a cada dois meses, pelos próximos 15 anos. O risco de que ocorra um acidente com algum navio, que teria sérias conseqüências para a população e o meio-ambiente, fez com que mais de 30 países protestassem.
A raiz do problema é o plutônio.
Este elemento, que não existe na natureza, é produzido unicamente por reações nucleares. Ele é altamente tóxico: um milionésimo de grama pode matar uma pessoa. Sua meia-vida -o tempo para que sua atividade radiativa caia à metade- é de 24 mil anos. Duas meias- vidas do plutônio equivalem, portanto, ao período de existência do Homo Sapiens. Para complicar, a desagregação do Leste europeu estimulou o contrabando de plutônio. Diversas operações foram descobertas recentemente pela polícia européia, evidenciando um enorme risco à segurança internacional.
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