"A política latino-americana de Clinton tornou-se refém do Nafta. Se ele fracassa, nada mais poderá ser feito visando lançar a estratégia de longo prazo para a América Latina e o Caribe (…) O Nafta, seguido de longe pelo Haiti e mais nada, é o grande trunfo de Clinton em política para a América Latina"
O El Financero, da capital mexicana, escreveu que o modo como se jogou o governo dos Estados Unidos para apoiar o México, mostra que associações do tipo Nafta resultam em positiva co-responsabilidade em crises. Convicção manifestada por um graduado porta-voz do mundo dos negócios de que o acordo de livre comércio com Estados Unidos e Canadá não sofreu os tremores da bancarrota e até fortaleceu-se como instrumento de integração e cooperação.
Mas nem todo mundo pensa assim.
Há informações de que a conclusão das negociações que levaram à criação do Nafta incluía o compromisso “não escrito” do México de não desvalorizar o peso tão cedo. Seria uma das explicações, não a única, para a recusa do ex-presidente Carlos Salinas de Gortari de desvalorizá-lo ainda em seu mandato. Um peso “robusto”, apesar de assentado em pés de barro, como se viu, poderia suavizar pressões anti-Nafta dentro dos Estados Unidos.
Também viu-se que essa moeda aparentemente forte acabaria no epicentro da primeira grande crise do século XXI, na palavra do diretor-geral do FMI, enfraquecendo o PRI (Partido Revolucionário Institucional), fiador do Nafta do lado mexicano, partido no poder desde 1929.
A “questão crucial”, que se colocou para maioria dos americanos durante as discussões sobre o Nafta, fixou-se no “impacto potencial”do acordo em sua economia doméstica, especialmente na possível criação de empregos. O Nafta afetará muito pouco os Estados Unidos, garantiu Peter Harkin, presidente do Inter-American Dialogue, espécie de assembléia de líderes do continente, do norte e do sul, e destacado colaborador do jornal Christian Science Monitor.
A economia mexicana representa menos do que 5% do tamanho da americana. Nos 15 anos previstos para a implementação dos dispositivos do tratado, os Estados Unidos devem crescer de 7 a 10 México. A velha regra diz que não há igualdade entre desiguais, advertiu um mexicano crítico do Nafta. A sobrevalorização talvez ajudasse. Essa “assimetria” entre poder e riqueza dos dois países, retratada numa das tantas charges sobre o tratado como a pulga e o elefante, colocava-se desde logo como “fonte potencial” de conflitos, e volta a ter os seus contornos acentuados com a bancarrota.
O que parecia inevitável, um envolvimento crescente dos Estados Unidos em assuntos mexica-nos, para “modelar”os cenários internos exigidos pelo Nafta, começa a acontecer sob imposição de tempos de crises e rupturas. A rebelião de Chiapas foi objeto de pesquisa de um professor de história da academia militar de West Point, coronel Stephen Wagner, publicado pelo Instituto de Estudos Estratégicos da escola. O Chase Manhattan Bank pediu a eliminação dos zapatistas, para que os investidores recuperassem a confiança no México.
Como garantia de pagamento do empréstimo de US$ 20 bilhões, além da penhora das receitas petrolíferas mexicanas e da designação de tribunais em Nova York para o julgamento de eventuais pendências jurídicas, os Estados Unidos impuseram um duro programa econômico ao sucessor de Salinas, o presidente Ernesto Zedilho. Elevação das taxas de juros, redução dos gastos públicos, arrocho salarial, reaceleração das privatizações etc. As 24 pessoas e famílias bilionárias do México que figuram entre os 500 mais ricos do mundo da revista Forbes, beneficiárias de jointventures com as multinacionais, se congratulam com a vigência do Nafta e a colocação à venda de estrdas de ferro, hidrelétricas e parte da empresa estatal de petróleo.
Essa escalada de intervenções, no entanto, acirra sentimentos anti-gringo históricos.
O petróleo é o símbolo do nacionalismo mexicano.
Plebiscito informal feito pela Aliança Cívica, uma das mais importantes ONGs (organização não governamental) do país, mostrou a força redobrada desses sentimentos.
Nos Estados Unidos são reanimadas imagens de um México perfeitamente dispensável, governado por uma oligarquia política corrupta.
Publicação inglesa com boa leitura em Washington chegou a acusar o ex-presidente Salinas de falsificar estatísticas. Ele foi de um triunfalismo ridículo em sua última mensagem ao Congresso, escreveu a Economy & Business. Dificilmente o Nafta escapará desses tremores.
Problema político sério para Clinton. Com o Nafta, a Iniciativa para as Américas do ex-presidente George Bush, que Hakin considera o programa regional “mais criativo” do governo americano, foi esvaziado. Praticamente deixou de existir. A política latino-americana de Clinton tornou-se refém do Nafta. Se ele fracassa, é outra avaliação de Hakin, nada mais poderá ser feito visando a lançar a estratégia de longo prazo para a América Latina e o Caribe.
O Nafta, seguido de longe pelo Haiti e mais nada, é o grande trunfo de Clinton em política para a América Latina. ele fará o possível para preservá-lo. Não se sabe se conseguirá.
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