domingo, 23 de janeiro de 2011

E a Contracultura rodou a baiana

A contracultura virou os anos 60 de pernas para o ar. Autores “malditos” como Jack Kerouac chocavam a classe média com livros e poemas crus sobre sexo, drogas e rock’n roll. Elvis, os Beatles e os Stones introduziam sensualidade e ousadia na música e nos costumes; a TV criava a cultura de massa, influenciando decisivamente a opinião pública quanto aos rumos da Guerra do Vietnã; em Nova Yoork, Andy Warhol criava a Arte Pop, pintando quadros com latinhas de sopa pronta e proclamando o fim da distância entre a indústria e a arte; feministas, negros e homossexuais conquistavam nas ruas os seus direitos.
O Brasil,nessa época, era uma colcha de retalhos. Conviviam ditadores, pacatos cidadãos, sonhadores guerrilheiros, roqueiros da Jovem Guarda, marginais da Tropicália, subversivos da Música de Protesto… em resumo: Deus e o Diabo numa colagem pop da Terra do Sol.
Que tudo mais vá para o inferno: com o rei Roberto Carlos, o Tremendão Erasmo e a Ternurinha Vanderléia, a indústria culturallançou o iê-iê-iê tupiniquim, propagador do sonho americano de consumo. A ascensão social tomava corpo no “carro vermelho”, na buzina do “calhambeque” ou na velocidade das “curvas da estrada de Santos”. Sua ideologia não oferecia riscos, cabia dentro do porta-luvas dum “carango”.
Um poeta desfolha a bandeira/ e a manhã tropical se inicia: o poeta piauiense Torquato Neto anuncia a Tropicália na canção Geléia Geral. O movimento teve início em 1967, no III Festival da TV Record, com Caetano e Gil desafinando “o coro dos contentes”. Recuperando a antropofagia de Oswald de Andrade, queriam “devorar?” tudo, bater no “liquidificador cultural” várias tendências. O berimbau se associou à guitarra, o erudito ao popular, o iê-iê-iê ao bolero, o internacional ao nacional. Tudo e nada ao mesmo tempo.
Ninguém há de me calar/ Se alguém tem que morrer/ Que seja pra melhorar:
Geraldo Vandré, autor desse Réquiem para Matraga, celebrizou-se pela canção-panfleto Caminhando, hino das esquerdas contra a ditadura. Nas trincheiras contra o regime militar, o compositor fez de seu violão uma baioneta. Suas músicas eram mero pretexto para o discurso político, simples e secas. Foi o grande símbolo da música de protesto no país.
Uma idéia na cabeça, uma câmara nas mãos: Com essa fórmula, Glauber Rocha sintetizava o despojamento do Cinema Novo, que buscava a identidade do país, na linha da Semana de 22. Para muitos, foi o primeiro instante do “Tropicalismo”, influenciando Caetano e Gil na redescoberta artística do Brasil. Sabor de banana com carne seca e uma pitada de pólvora… é uma brasa, mora? É só virar a página!

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