terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Editorial- Irmã Santina

A irmã Santina Perin, brasileira, gaúcha, 52 anos, embarcou em julho com haitianos num frágil bote. Ela sabia – todos sabiam – que o bote seria devolvido às autoridades haitianas pela Guarda americana; que alguns de seus companheiros seriam presos ou mortos; que seu gesto, à luz da fria razão política, era inútil.
Inútil? Jamais. Quando tudo o mais falha, quando o Direito Internacional é tripudiado por uma superpotência travestida de paladina da democracia, e quando a conveniência ou a indiferença dita a cumplicidade das nações do mundo, são os pequenos gestos que assumem para si a imensa tarefa de resgatar a dignidade.
É disso que se trata: dignidade. Em outras ocasiões, Washington utilizou argumentos tão “humanitários” como o de “salvar a democracia no Haiti” para invadir nações soberanas. Em 1989, tratava-se de depor Noriega para acabar com o narcotráfico no Panamá; 1991, de liquidar Saddam, uma “ameaça à humanidade”; em 1993, acabar com a fome na Somália. Mas Noriega e Saddam foram, em graus distintos, fabricações de Washington, tanto quanto a ditadura haitiana de Cedras. Pior: o narcotráfico no Panamá piorou após a invasão, Saddam continua no poder e a fome na Somália terrível como sempre.
Dignidade. Não cabe, aqui, discutir os reais interesses de Washington, aliás um tema permanente deste boletim. Trata-se de saudar no gesto da irmã Santina o sinal de alarme contra o torpor letal dos que se calam por ser mais conveniente ou cômodo – porque, afinal “as coisas sempre foram assim”.

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