Desregulamentação dos mercados financeiros e ciranda especulativa nas "economias emergentes" ameaçam o projeto neoliberal. É nesse quadro que a crise financeira do México sinaliza uma analogia sombria com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, quando foram questionadas as estruturas mundiais do sistema monetário e econômico.
Globalização é a palavra do momento. Desde a desintegração da União Soviética, em 1991, não existe mais uma fronteira geopolítica para a economia de mercado. Sobre o pano de fundo da revolução tecnológica, a eliminação dos protecionismos e a integração dos mercados nacionais conferem unidade à economia mundial.
Mas a globalização não começou de repente, nem é um fenômeno tão recente. A sua origem remonta há um século, quando começava a primeira onda de investimentos no exterior. A Grã- Bretanha – seguida de longe pela França, Alemanha, Holanda e Estados Unidos – liderava o movimento que semeava ferrovias, portos, usinas elétricas e iluminação pública na Argentina, União Sul Africana, índia, China, Austrália, Brasil, México e outros países.
A febre da expansão econômica durou décadas, sobreviveu à primeira Guerra Mundial (1914- 18), mas foi freada subitamente pelo grande cataclisma de 1929. O desastre interrompeu a concorrência desenfreada entre os Estados Unidos, que já ocupavam a posição de primeira potência, a Alemanha e a decadente Grã-Bretanha. A colossal descrição da Europa e do Japão, na Segunda Guerra Mundial (1939-45), abriu uma fase inteiramente nova, assentada na hegemonia americana.
Os investimentos internacionais – ou seja, o capital das empresas, bancos e investidores que desconhecem as fronteiras políticas – é o combustível da globalização. Desde 1945, o fenômeno atravessou três etapas distintas.
Durante as três primeiras décadas do pós- guerra, a globalização desenvolveu-se sob o influxo dos investimentos produtivos diretos. Os conglomerados transnacionais americanos, seguidos depois por europeus e japoneses, deslocavam filiais para o estrangeiro e transformavam todo o planeta em uma arena única da produção e da concorrência.
Nessa etapa, os mercados financeiros eram comportados e discretos: as taxas de câmbio variavam pouco, pois o dólar estava atrelado ao ouro em virtude dos Acordos de Bretton Woods, firmados em 1944.
Os anos 70 testemunharam mudanças bruscas nesse cenário. O dólar foi incapaz de sustentar a sua cotação histórica e teve que ser desatrelado do ouro. Assim como a moeda-guia, todas as moedas passaram a flutuar livremente, ao sabor da oferta e da procura. Começou a ciranda dos investimentos de curto prazo. Ao mesmo tempo, os dois “choques do petróleo”, em 1973 e 1979, geraram vastos excedentes de capitais depositados pelos exportadores de petróleo nos bancos internacionais. Esses excedentes tornaram-se as fontes da orgia de empréstimos bancários privados destinados ao Terceiro Mundo. A “crise das dívidas externas”, dos anos 80, assinalou o esgotamento dessa tendência.
A etapa atual da globalização caracteriza-se pelo boom dos mercados de capitais (títulos governamentais e ações) e dos fluxos de investimentos de curto prazo. Nos anos 80, sob o impacto das idéias neo-liberais, as bolsas de valores da América do Norte e Europa foram desregulamentadas, enquanto a tecnologia dos satélites e computadores permitia a interligação instantânea de mercados situados em lados opostos do planeta. Os investimentos na ciranda financeira globalizada deixaram de ser monopólio dos conglomerados empresariais e se popularizaram, atraindo fundos de pensão e previdência privada dos países ricos.
Nos anos 90, as “economias emergentes” fizeram a sua entrada no palco principal da ciranda financeira. Na Ásia, América Latina e Europa Oriental, as reformas econômicas liberais apoiaram-se no ingresso crescente de capitais de curto prazo, indispensáveis para equilibrar o balanço de pagamentos.
No México, soou o sinal de alerta. Como nos anos 20, o edifício financeiro do planeta está fincado sobre a areia movediça. Mas, agora, a fagulha do colapso pode vir do Terceiro Mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário