Em 1987, quando ainda não era o Secretário-Geral das Nações Unidas, o egípcio Boutros-Ghali alertava: “As guerras do Oriente Médio, daqui para frente, terão muito mais a ver com a água do que com a política.”
A água no Oriente Médio é escassa em função do domínio de clima áridos. Por isso, o acesso a fontes de água pode levar países a situações conflitivas, já que quase nunca há adequação entre os recursos hídricos (precipitações anuais e fluxo das águas superficiais e subterrâneas) e as necessidades presentes e futuras.
Essa inadequação é explicada por várias razões:
• o elevado crescimento demográfico que gera demandas crescentes de água;
• a má distribuição dos recursos hídricos com a contaminação de mananciais e do lençol freático pela utilização de produtos químicos na agricultura;
• a falta de planejamento na hora de se estender as redes de irrigação;
• os desacordos entre países no que diz respeito à utilização de recursos hídricos comuns.
Especialmente este último fato, pode levar ao surgimento das chamadas “zonas hidro conflitivas”. As duas mais importantes no Oriente Médio estão juntas às bacias dos rios Jordão, Tigre e Eufrates.
Esses dois últimos rios atravessam áreas da Turquia, Síria e Iraque, países que enfrentam um alto crescimento demográfico, fato que os obrigam a aumentar a produção agrícola. A Turquia tem o domínio sobre as nascentes dos rios,enquanto que o Iraque tem sob seu controle partes do médio e baixo vales. Desde os anos 80, a Turquia vem desenvolvendo o Projeto da Grande Anatólia (PGA), com o objetivo de modificar radicalmente a região sudeste do país, com a construção de barragens, hidroelétricas e irrigando quase dois milhões de hectares de terras.
Esse projeto lhe permitiria se tornar um grande produtor de cereais e garantiria 50% de suas necessidades em energia. A grande retenção de água por parte dos turcos, prejudica tanto a Síria (que depende em 90% do Eufrates) como o Iraque, localizado à jusante (rio abaixo).
Como domina as nascentes dos rios e, não existe uma legislação internacional clara sobre o assunto, a Turquia tende a negociar com seus vizinhos desde uma posição de força. Por isso,o PGA para a Turquia pode se constituir numa etapa do projeto geopolítico de restaurar as antigas glórias do Império Otomano.
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