terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Comunismo no país do I Ching- Revolução levou a Guerra Fria à Ásia

A República Popular da China foi proclamada a 1º de outubro de 1949, apenas alguns meses depois da criação da Otan e da divisão da Alemanha.
A tomada de Pequim pelas forças de Mao Tsétung foi precedida pela retirada do governo nacionalista do Kuomintang, que se instalou na ilha de Formosa e ganhou o reconhecimento da Casa Branca. As fronteiras geopolíticas da Guerra Fria eram transportadas para a Ásia.
A vitória comunista precipitou a guerra na península coreana. O avanço das tropas da Coréia do Norte sobre o território sul-coreano, em 1950, conduziu Washington e Pequim ao engajamento militar.
A Guerra da Coréia (1950-53) e a instalação de um regime comunista no Vietnã do Norte, em 1954, definiram as linhas demarcatórias: Washington criou o “cordão sanitário” em torno da China, firmando alianças militares com países da Ásia oriental e meridional.
A China de Mao atravessou a sua primeira década como aliado da URSS. A estratégia de desenvolvimento, assentada na noção de industrialização acelerada, chegou a uma encruzilhada com o fracasso do Grande Salto para a Frente (1958-59). O desastre econômico precipitou o realinhamento político. A partir de 1960, as relações sino soviéticas deterioraram-se acentuadamente. As divergências se concentravam no programa nuclear chinês, destinado a consolidar a influência continental do país. O teste do primeiro artefato atômico chinês, em 1964, foi precedido por trocas de acusações entre Moscou e Pequim. O cisma sino soviético degenerou em choques militares no vale do rio Amur (fronteira chinesa da Manchúria), em 1969.
A década de 60 foi marcada pelo isolamento diplomático da China. No plano interno a agricultura tomou o lugar da indústria como prioridade. As “Comunas Populares” –comunidades  rurais agro-industriais- sintetizaram o radicalismo coletivista do PCC (Partido Comunista Chinês). A Revolução Cultural, iniciada em 1966, acentuou o totalitarismo. Mao perseguiu, matou e expulsou do Partido milhões de suspeitos de ‘‘dissidência’’.
A projeção da China como potência continental provocou um conflito de fronteiras com a Índia, em 1962, pelo controle da região da Cachemira. A rivalidade aprofundou a aliança, de um lado, entre Índia e URSS, e de outro entre China e Paquistão. Com a invasão soviética do Afeganistão, em 1979, o território paquistanês tornou-se corredor para a ajuda chinesa aos muçulmanos que combatiam os ocupantes.
A Guerra do Vietnã na sua fase final (1960-75) mudou o panorama geopolítico da Ásia. As duas administrações de Richard Nixon (1968-74) promoveram a retirada americana do Vietnã  e, paralelamente,a aproximação entre Washington e Pequim. Em 1971, o então assessor especial Henry Kissinger manteve contatos com os comunistas chineses, rompendo o tabu de mais de duas décadas.
No ano seguinte, Nixon e Mao consolidaram uma parceria que isolava Moscou e transformava a China no eixo da política asiática de Washington.Pelas mãos americanas, Pequim integrou-se ao Conselho de Segurança da ONU até então ocupada por Formosa.
A morte de Mao, em 1976, abriu a fase mais recente da Revolução chinesa. O conflito pela sucessão,que envolveu grupos radicais e moderados do PCC, encerrou-se um ano depois com a ascensão de Deng Xiaoping, veterano revolucionário dos anos 30 que caíra em desgraça durante a Revolução Cultural. Em 1978, Deng surpreendeu o mundo com a abertura econômica da China.
O Programa das Quatro Modernizações dissolvia as Comunas Populares e criava mercados livres de produtos agrícolas, estimulava os investimentos estrangeiros nas novas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) e estabelecia laços com Formosa e Hong Kong. As “Chinas do exterior” transformavam-se em pontes para a economia mundial.
Em meados da década de 80, um acordo assinado com Londres definiu 1997 como data para a reincorporação de Hong Kong ao território chinês.
Deng combinou abertura econômica e totalitarismo político. Essa contradição pulsa como bomba relógio no país mais populoso do planeta.
A revolta estudantil da Praça da Paz Celestial, em 1989, reprimida barbaramente, revelou  esse mal estar profundo e persistente.
Revista Mundo Ano 3 n°3

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