E enquanto os Estados Unidos se envolviam na extração de petróleo em seu território, mas também na prospecção no México, América Central e Venezuela, as potências européias se voltavam para seus impérios coloniais. A Alemanha investiu no petróleo romeno, a Rússia nos campos dos arredores do Mar Cáspio e a Grã-Bretanha olhou com carinho os primeiros sinais de abundância do “ouro negro” no Império Turco-Otomano que, na virada do século XX, sangrava sob os desejos de autonomia de suas províncias.
Em 1901, o barão William Knox D’Arcy pagou ao xá (imperador) da Pérsia a soma de 20 mil libras e 16% dos lucros pelo direito de exploração de petróleo em dois terços de seu território. Uma associação com a Burmah Oil e, depois, com a Royal Dutch Shell, permitiu a criação da poderosa Anglo-Iranian Oil.
Petróleo e geopolítica se misturaram desde o início. A promessa de apoio na luta contra o poder turco tornou-se, então, a maior arma dos britânicos para negociar com chefes tribais concessões futuras para exploração de petróleo.
Ainda em 1908, as sete maiores empresas produtoras mundiais de petróleo (uma britânica, dominante, uma holandesa, uma francesa e quatro norte-americanas) selaram um acordo criando um cartel conhecido como as Sete Irmãs, que dominaria a exploração de petróleo no Oriente Médio até os anos 50. Com medo da influência crescente dos britânicos sobre os líderes árabes, o governo turco se associou aos alemães na Turkish Petroleum, que concorreria com as Sete Irmãs.
Uma virada fundamental, pouco antes da Primeira Guerra Mundial (1914-18), foi a decisão britânica, tomada pelo então ministro da Marinha Winston Churchill, de converter a frota de guerra, que operava a carvão, para o óleo. A Grã-Bretanha precisava de novas fontes de petróleo e garantias de fornecimento contínuo. O Oriente Médio era a resposta.
Na Primeira Guerra Mundial, alemães e turcos foram derrotados por uma coalizão liderada pela Grã-Bretanha, Estados Unidos e França. A conseqüência foi a divisão do Império Turco-Otomano e, em conseqüência, das reservas de petróleo do Oriente Médio que, já nos anos 20, eram identificadas como as maiores do mundo. Em 1916, um acordo secreto entre britânicos e franceses retalhou o Oriente Médio em protetorados. Aí se encontram as origens do domínio da França sobre o Líbano e a Síria, da Palestina Britânica e do Estado iraquiano, criado pelos britânicos pela junção das reservas de petróleo (no norte curdo) com o porto marítimo (no sul xiita) através da região central sunita.
Os acordos do pós-guerra reconheceram o direito dos Estados Unidos de expandir seus interesses econômicos no Extremo Oriente e Europa, além da América Latina. Nos antigos domínios turcos, agora sob britânicos e franceses, as empresas petrolíferas americanas receberam garantias e privilégios.
Um acordo secreto conhecido assegurou que nenhuma companhia de fora do cartel das Sete Irmãs pudesse operar na maior parte do Oriente Médio. Os limites geográficos do oligopólio foram traçados no mapa pela célebre Linha Vermelha. A descoberta de novas reservas no atual Iraque, nos anos 20, levou a uma adequação do acordo, via formação de uma nova empresa, a Iraq Petroleum Company, composta pela Anglo-Iranian (23,75%), Companhia Francesa de Petróleos (23,75%) e um grupo de empresas americanas (23,75%). Os 5% restantes ficaram com o milionário de origem armênia Calouste Gulbenkian.
As empresas americanas, insatisfeitas com as restrições impostas pelo acordo, logo descobririam um jeito de ampliar sua presença na região. Certas áreas, como o Bahrein, no Golfo Pérsico, estavam fora do acordo da Linha Vermelha, mas a partilha do Oriente Médio estabelecida no fim da Primeira Guerra Mundial garantia que só companhias britânicas operassem por ali. O truque foi simples. A Socal (depois Esso e, depois, Chevron), estabeleceu uma filial no Canadá, então parte do Império Britânico. De lá, começou a explorar o petróleo do Golfo Pérsico e, aos poucos, estabeleceu uma sólida aliança com a família Saud, reinante da Arábia Saudita, pagando lucros maiores do que o cartel dominado pelos britânicos. Essa aliança entre empresas (e o governo) dos Estados Unidos e a monarquia saudita permanece intacta até hoje.
Mas a hegemonia da Grã-Bretanha na região só seria abalada após a Segunda Guerra Mundial (1939-45), quando novos Estados árabes passaram a revoltar-se contra a velha ordem colonial, ameaçando nacionalizar o petróleo se não houvesse uma renegociação dos antigos acordos. O auge desse movimento aconteceu em 1951, quando o primeiro-ministro nacionalista do Irã, Mohammed Mossadegh, nacionalizou a Anglo-Iranian, com apoio da União Soviética. Então, deu-se a troca de guarda. A CIA desempenhou papel fundamental para derrubar Mossadegh, em 1953, reempossando o xá Reza Pahlevi, agora alinhado com os interesses de Washington.
O caso Mossadegh selou a hegemonia dos Estados Unidos e das grandes empresas americanas sobre o petróleo da região. Levou, também, a renegociações preventivas entre as empresas e os Estados árabes, com os lucros cada vez maiores do petróleo sendo divididos, em geral, meio a meio, numa acomodação recíproca de interesses que duraria até as duas crises do petróleo, em 1973 e 1979. Mas essa já é outra história.
Boletim Mundo n° 3 Ano 14
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