No momento que você está lendo este artigo mais de 3 milhões de pessoas espalhadas pelo mundo estão participando do desenvolvimento e manutenção de programas de computador conhecidos como software livre. O exemplo mais famoso é um sistema operacional chamado GNU/Linux. Está presente na NASA, na Casa Branca, no governo brasileiro, em 70% das cem maiores empresas brasileiras, na Agência Brasileira de Inteligência, no Superior Tribunal de Justiça e na Embrapa, entre inúmeros outros exemplos.
Afinal, o que é um software livre? Uma nova tecnologia? Não. Todo software pode ser livre ou proprietário. Isto depende da decisão do seu autor. Para ser livre um software precisa ser distribuído junto com seu código-fonte e com uma licença que assegura ao usuário, no mínimo, quatro liberdades: de usá-lo para qualquer fim, de estudá-lo sem restrições, de melhorá-lo e de redistribuí-lo para quem quer que seja. Código -fonte é um documento que contém as linhas de programação em que o software foi escrito.Richard Stallman, criador do movimento do software livre, costuma comparar o software a um bolo. As pessoas podem ter acesso apenas ao bolo, mas também poderiam conhecer a receita do bolo. A receita é um conjunto de instruções sobre os ingredientes e sobre como combiná-los. Um software nada mais é que um conjunto de instruções escritas em uma linguagem de programação que o computador deve entender. Quando o software é livre você tem acesso “ao bolo e à sua receita”, ou seja, é possível ter acesso ao conhecimento tecnológico nele presente: o seu código-fonte.
O movimento mundial do software livre é um movimento de compartilhamento do conhecimento tecnológico. O que faz o software livre tão poderoso e tão diferente?
Por que ele é tão importante para o Brasil? O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, representando o país na Cúpula da Sociedade da Informação, em Genebra, em dezembro de 2003, afirmou que “o desenvolvimento de soluções baseadas em software livre estimula a transferência de tecnologia entre indivíduos e países”.
Portanto, as características principais do software livre são a liberdade e o compartilhamento do conhecimento. Veja a diferença do modelo de desenvolvimento de software proprietário: somente a Microsoft, no ano fiscal de 2004, faturou US$ 36,84 bilhões conseguindo um lucro líquido de US$ 8,17 bilhões. Este lucro é maior que o mercado de software indiano (US$ 7,9 bi) e brasileiro (US$ 7,7 bi). Seu faturamento foi 4,8 vezes maior que o mercado brasileiro, 4,7 vezes maior que o indiano e 4,5 vezes maior que o mercado chinês de software (estimado em US$ 8,2 bi). No modelo proprietário, a concentração de riqueza é voraz e a monopolização é intensa.
Em 2002, o Brasil enviou ao exterior mais de US$ 1,2 bilhão pelo pagamento de royalties pelo uso de licenças de software proprietário. Utilizando o software livre teremos redução desta drenagem de recursos de países pobres para alguns poucos países ricos. Na Espanha, a província de Extremadura conseguiu informatizar todas as escolas e colocar um computador para cada dois alunos, em cada sala de aula, porque adotou uma série de softwares livres: ao invés de Windows, usou GNU/Linux; abandonou o Office e usou OpenOffice; deixou de lado o browser Explorer e utilizou Mozilla; substituiu o Photoshop pelo Gimp, e assim por diante. Com isso economizou mais de 60 milhões de euros que seriam desperdiçados com licenças de propriedade.
Outras vantagens do modelo de software livre são a segurança e a estabilidade. Por ter seu código-fonte aberto a todos, qualquer usuário ou empresa pode analisar as rotinas contidas no software e corrigir falhas graves e possibilidades de intrusão. Não é por menos que o software mais utilizado para hospedar páginas da web é o Apache, um software livre. Ele está presente em dois terços dos servidores de web do planeta. É livre. É transparente. Ele é seguro porque é robusto. Seus códigos são bem escritos. Já o modelo proprietário se baseia no segredo do código-fonte. Somente a empresa que o desenvolveu o possui. Os usuário tem que acreditar que aquilo é robusto.
No Brasil, o software livre avançou muito com o apoio dado pelo governo federal, a partir de 2003. Por outro lado, ele cresce muito velozmente no setor privado. A maior rede varejista brasileira, as Casas Bahia, migrou totalmente sua rede para rodar GNU/Linux e Apache. O sucesso foi total. Não somente se economizou com o não-pagamento de licenças de software, mas com o aumento da estabilidade da rede. Não é por menos que o último levantamento da empresa de consultoria Gartner Group projetou que o Linux será majoritário nas chamadas áreas de missão crítica até o final desta década.
A Nokia escolheu o Brasil para formar sua equipe de desenvolvedores que implantarão o Linux – que é desenvolvido mundialmente por aproximadamente 150 mil programadores – nos seus celulares e demais aparelhos. A Nokia e muitas outras empresas de eletroeletrônicos perceberam a força e a qualidade do desenvolvimento colaborativo e estão aderindo. No modelo de software livre, os programas, em geral, são desenvolvidos mundialmente com a participação da inteligência coletiva local.
A versão estável do GNU/Linux, 2.4, é mantida por um brasileiro de 22 anos, Marcelo Tosatti. Ele não tem curso superior, mas é um gênio da informática. No modelo colaborativo vale quem sabe e não quem diz saber. Por isso, o Brasil se projetou no mundo do sofware de código-fonte aberto.
Breve história da internet
1951 14 de junho: a Remington Rand lança o primeiro computador produzido comercialmente, o Univac (Universal A utomatic Computer), pesando 7,2 toneladas e ocupando 32,5 m2. Utilizava cinco mil tubos de vácuo e era capaz de realizar até mil cálculos por segundo.1957 A União Soviética lança o primeiro satélite artificial (Sputnik) Como resposta, os Estados Unidos formam a Advanced Resear ch Projects Agency (Arpa).
1958 Jack Kilby desenvolve um dos primeiros circuitos integrados, caracterizado por reunir transistores destinados à realização de tarefas de computação.
1962 O governo americano inicia o desenvolvimento de uma rede de comunicação para fins militares (Arpanet).
1969 O Pentágono contrata pesquisadores para colaborar com a Arpanet, baseados na Universidade da Califórnia em Los Angeles e Santa Bárbara, no Stanford Research Institute e na Universidade de Utah O objetivo era interligar pontos estratégicos a uma rede descentralizada, que não pudesse ser destruída por bombardeios.
1971 Os computadores estão conectados a 24 bases; o engenheiro Ray Tomlinson envia o primeiro “e-mail” (para ele mesmo), separando o nome do “usuário” do “nome do computador” pelo símbolo @. A mensagem é um pequeno teste: “QWERTYUIOP”.
1973 É feita a primeira conexão internacional da Arpanet, interligando Grã-Bretanha e Noruega.
1974 Vinton Cerf e Bob Kahn, da Arpa, criam o Transmission Contr ol Protocol (TCP), que permite a comunicação por computadores via sistema de redes. O número de instituições participantes da Arpanet sobe para 40. A troca de mensagens e de arquivos torna-se realidade.
1980 A Arpanet se espalha pelos Estados Unidos, conectando mais de 400 hosts em universidades, no governo, e em organismos militares; mais de dez mil pessoas tem acesso à rede.
1983 A Arpanet adota o protocolo TCP/IP (Transmission Contr ol Protocol/Inter net Protocol), a linguagem comum usada por todos os computadores conectados à rede. A internet começa a surgir; estações de trabalho se tornam acessíveis e há uma explosão de redes locais.
1984 É estabelecido o DNS (Domain Name Ser ver ); o número de hosts da Arpanet ultrapassa mil. É registrado o primeiro domínio pontocom, da empresa de informática Symbolics.com.
1986 A Arpanet começa a ser denominada internet.
Boletim Mundo n° 6 Ano 13
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