sábado, 31 de dezembro de 2011

DE VOLTA AO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO

A perspectiva de esgotamento da capacidade de produção de energia via usinas hidrelétricas e termoelétricas levou o governo brasileiro a retomar o programa nuclear, ao lado de outras alternativas, como a geração de energia por biomassa.
No final de 2005, o Governo Federal anunciou sua disposição de reiniciar a construção da usina de Angra 3 – que está paralisada há duas décadas e onde já foram consumidos cerca de US$ 800 milhões. Com isso, o governo pretende ampliar a fatia representada pelas usinas nucelares na matriz energética brasileira, dos atuais 3,7% para 5% até 2022. Nesse período, seriam necessários investimentos de US$ 13 bilhões.
A revisão do Programa Nuclear conta com planos de construção de outras duas grandes usinas e quatro geradoras de pequeno porte. Em maio de 2005, o Ministério da Ciência e Tecnologia inaugurou a primeira unidade de enriquecimento de urânio em escala industrial. Em pleno funcionamento, ela permitirá abastecer 60% do urânio necessário ao funcionamento de Angra 1 e Angra 2.

O PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO
As primeiras iniciativas do Brasil na área nuclear datam da década de 1950. Mas o processo foi acelerado na década de 70, durante o regime militar, que previa não apenas o uso do átomo para a geração de energia elétrica, como também, a construção da bomba atômica verde amarela.
À época, as ditaduras do Brasil e da Argentina disputavam uma corrida pela hegemonia regional – os argentinos também desenvolviam sua bomba-A.
No plano da geração de energia, depois de muita negociação com os EUA, o Brasil conseguiu que a Casa Branca aceitasse, em 1970, um acordo para que a empresa norte-americana Westinghouse construísse a usina de Angra 1. O projeto nuclear completo previa mais seis usinas (duas em Angra e seis no litoral de São Paulo).
O problema é que os EUA desconfiaram do uso que o Brasil faria da usina nuclear. Isso porque o governo brasileiro é signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, que o proíbe de construir bombas atômicas. Assim, os norte-americanos vetaram os passos seguintes do programa nuclear do Brasil. Em 1974, o então presidente Ernesto Geisel assinou outro acordo, agora com a Alemanha, para concluir a construção das usinas de Angra. A Casa Branca não gostou. mas terminou engolindo. E o Brasil inaugurou Angra 1 em 1982, seguida por Angra 2.

PROGRAMA MILITAR
Em 1979, a ditadura brasileira deu início ao chamado Programa Nuclear Paralelo, isto é, com finalidades militares. O programa tinha três personagens-chave: o almirante Othon Pinheiro da Silva, o coronel e pesquisador Rex Nazaré, e o brigadeiro Hugo de Oliveira Piva.
O almirante Othon estaria à frente da construção do submarino nuclear, a partir da base do IPEN (Instituto de Pesquisas Nucleares/USP) e da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) no centro de Aramar, no interior paulista. A construção do submarino começou logo no início da década de 1980, mas ainda não terminou, principalmente por conta da resistência de outros países em transferir tecnologia ao Brasil. Em 1987, o então presidente José Sarney anunciou que o Brasil dominava a tecnologia de enriquecimento de urânio. O submarino, que já consumiu US$ 900 milhões (e deve custar US$ 1,4 bilhão até o final), deverá estar pronto, na melhor das hipóteses, apenas em 2025.
Já Rex Nazaré foi responsável pela implantação do Poço do Cachimbo  e pelo projeto de construção da bomba atômica brasileira. O fim da ditadura levou à suspensão do projeto.
O papel do brigadeiro Hugo Piva no Programa Nuclear Paralelo é mais obscuro. Isso porque, nos anos 80, em meio a sérias dificuldades financeiras, a pressões dos EUA contra o uso da energia atômica no Brasil e diante do aumento das manifestações pela democracia, o governo militar reduziu drasticamente o fluxo de recursos para o programa nuclear paralelo.
Teve início, então, um acordo secreto com o Iraque de Saddam Hussein, que forneceria os recursos necessários à conclusão de vários projetos brasileiros, em troca da transferência de tecnologia. O Iraque contratou – oficialmente a título privado – 26 cientistas brasileiros, chefiados pelo brigadeiro Piva, que colaborariam com seus projetos militares. Por baixo do pano, o governo brasileiro apoiava a ida de Piva.
Além dos brasileiros, o Iraque contratou outros cientistas estrangeiros, como o britânico Gerard Bull – autor de um projeto de super canhão capaz de lançar bombas atômicas a longa distância, e também o alemão Karl- Heinz Schaab. Este teria desempenhado papel de destaque no envio secreto de urânio brasileiro enriquecido para o Iraque. O envio foi denunciado pela imprensa brasileira no início dos anos 80 e teve o dedo do então Governo de São Paulo, ocupado por Paulo Maluf.

O Poço de Cachimbo
Um dos episódios mais obscuros do Programa Nuclear Paralelo do Brasil refere-se ao Poço do Cachimbo, inaugurado secretamente em 1981. Lá, em plena Serra do Cachimbo, no Pará, as Forças Armadas construíram um grande complexo de covas e poços, alguns com até 320 metros de profundidade e paredes reforçadas por camadas de concreto e aço de um a três metros de espessura.
Batizado de Projeto Solimões, o Poço do Cachimbo teria como objetivo a realização de experiências e, no limite, de explosões da futura bomba atômica brasileira. O complexo foi definitivamente desativado em setembro de 1990, pelo então presidente Fernando Collor de Mello. À época, também já havia terminado a ditadura militar argentina e o novo governo democrático abandonara o projeto de bomba atômica no país.

Boletim Mundo n° 6 Ano 14

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