sábado, 31 de dezembro de 2011

UNIÃO EUROPÉIA LIDERA CORRIDA AO BIODIESEL

Ao contrário dos Estados Unidos, que rejeita o Protocolo de Kyoto, os europeus participam do tratado e o utilizam para estimular a substituição de combustíveis fósseis.

A primeira fábrica brasileira de biodiesel foi inaugurada em Chapadão do Céu (GO). Hoje, o país já conta com cerca de 40 indústrias que produziram 176 mil litros de biodiesel em 2004. São números muito modestos quando comparados com o 1,54 milhão de barris de petróleo por dia que marcaram a conquista da auto suficiência do Brasil no setor, em 2006. São números modestos também quando comparados com a performance dos países da União Européia, principal produtor mundial, com 1,35 milhão de toneladas de biodiel/ano.
Na Europa, a Alemanha é o maior produtor, com 42% do total e elaborando biodiesel a partir da colza, usada também para produzir ração animal e adubo orgânico.
França e Itália são outros produtores de destaque. Os europeus calculam que, em 2010, o biodiesel já responderá por 5,75% de todo o diesel consumido no continente. Fora da Europa, Estados Unidos, Argentina e Malásia vêm ampliando investimentos na produção de biodiesel.
A importância do biodiesel cresce ano a ano também por conta da aproximação das datas-limite para a operação do Protocolo de Kyoto, um acordo internacional que prevê reduções na emissão de dióxido de carbono e outros gases de estufa. Segundo o acordo, os países desenvolvidos deverão diminuir em 5,2% a emissão de gases de estufa entre 2008 e 2012.
A liderança européia na substituição de combustíveis fósseis por biomassa decorre do Protocolo de Kyoto. Os Estados Unidos recusaram-se a participar do tratado e procuram enfraquecê-lo de todos os modos, inclusive tentando articular um acordo alternativo com o Japão e outros países asiáticos. Os europeus, pelo contrário, jogaram seu peso político para garantir que o tratado entrasse em vigor. Eles pressionaram a Rússia e o Japão a referendá-lo e conseguiram isolar os Estados Unidos.
Agora, procuram extrair benefícios econômicos e tecnológicos da iniciativa ambiental. Em 2003, o Parlamento Europeu votou uma diretiva cuja meta é a substituição de combustíveis fósseis por combustíveis renováveis.
O Protocolo de Kyoto não é apenas um jogo entre as potências econômicas mundiais. Ele tem importantes repercussões para os países em desenvolvimento, pois inclui um mecanismo – sugerido, aliás, pelo Brasil – que permite aos países desenvolvidos comprarem créditos de carbono. Quer dizer: eles podem financiar projetos de redução de emissões em outros países e utilizar os resultados obtidos como créditos que os ajudem a alcançar suas próprias metas de redução de emissões de gases de estufa.
A perspectiva de negociar os créditos de carbono transformou o combate às emissões derivadas da queima de combustíveis fósseis em excelente negócio. Os créditos são negociados em bolsas especiais, como se fossem ações de empresas. Na Europa, por exemplo, uma tonelada de crédito de carbono retirada da atmosfera por meio do uso de tecnologias limpas está cotada a US$ 9,25. E a Bolsa Mercantil e de Futuros de São Paulo está criando seu próprio mercado de negociação de créditos de carbono.
Países que dispõe de um setor agrícola moderno e amplas áreas cultiváveis tornam-se, assim, grandes candidatos a desenvolver projetos de geração de energia limpa, que possam ser vendidos a empresas e países desenvolvidos. O Brasil é um dos candidatos mais fortes. Na verdade, a aposta do governo Lula é ainda mais alta.
No tempo das grandes esperanças de 2003, Lula depositava na produção de biodiesel boa parte de suas expectativas de geração de 10 milhões de novos empregos – promessa não cumprida da campanha eleitoral.

O Plano Brasileiro do Biodiesel
A produção brasileira de biodiesel ainda engatinha e, por enquanto, é mais propaganda política que fato econômico.
Mesmo assim, existem 34 projetos de novas usinas em andamento. Duas delas, no Rio Grande do Norte, pertencem à Petrobrás. A empresa, aliás, realizou este ano o primeiro leilão de biodiesel, adquirindo 65,3 milhões de litros de quatro das maiores fábricas do país.
A expectativa é que, concluídas as novas usinas, o país seja capaz de garantir a produção de 1,12 bilhão de litros de biodiesel ao ano. Esse número supera a projeção de uma demanda anual de 840 milhões de litros, necessária para fazer cumprir uma lei de 2005 que exige a adição de 2% de biodiesel em cada litro de diesel, a partir de 2008. Em 2013, a porcentagem de biodiesel deverá alcançar 5% do total. E o diesel responde, hoje, por 16% dos combustíveis consumidos no Brasil.
O Plano Brasileiro do Biodiesel, é bom lembrar, exige que a produção de combustíveis “limpos” não ocorra em áreas antes utilizadas para o cultivo de alimentos. Contudo, essa determinação legal não será de fácil aplicação se a produção de insumos agrícolas para o biodiesel se revelar um bom investimento empresarial.
Apesar dos números e projeções animadoras, o perfil da produção brasileira de biodiesel é bem diferente daquilo que o governo imaginava, anos atrás. O discurso oficial sobre o biodiesel apresentava-o como instrumento de redenção da pequena agricultura familiar. Na prática, porém, a necessidade de combinar cultivos diferentes e de mobilizar grandes estruturas de logística faz com que o negócio seja controlado por grandes empresas, com ralas oportunidades de geração de emprego e renda para as camadas mais carentes do campo.
A conseqüência de tudo disso pode ser a transformação do país em uma espécie de Arábia Saudita da produção de combustível “limpo”. Os benefícios diretos, entretanto, devem ficar com os produtores industriais e com os empresários agrícolas, não com os pobres do campo.

Boletim Mundo n° 4 Ano 14

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