E olhe que o Brasil é apenas o 23º maior exportador mundial, responsável por mero 1,1% do comércio global.
Mas a liderança nas exportações de soja em grãos não é notícia tão boa quanto parece.
A produção mundial de soja cresceu 495% desde 1970. Isso porque a soja é uma espécie de “boi vegetal”: tem uso para tudo. Da fabricação de óleo à ração para cães, gatos e porcos, passando pela substituição de proteína animal (na forma de carne e leite de soja) e como complemento essencial para reduzir os efeitos da menopausa nas mulheres. Nos Estados Unidos, por exemplo, a soja ocupa 28% de toda a área cultivada.
O chamado complexo soja inclui a soja em grãos, o farelo e o óleo de soja, os dois últimos, produtos semimanufaturados – que podem ser vendidos a preço mais alto no mercado internacional. O Brasil vem exportando mais soja em grãos, o elo mais pobre dessa cadeia, enquanto perde espaço nas vendas de farelo e óleo. É um percurso quase exatamente inverso ao seguido pela Argentina .
A explicação é que, em busca de custos mais baixos e valendo-se de impostos reduzidos pelos governos estaduais, os agricultores estão deslocando o cultivo da soja para o Centro-Oeste, Nordeste e mesmo partes da Amazônia. Isso faz com que os campos estejam cada vez mais longe dos centros de moagem e industrialização, o que torna os custos mais altos.
A conseqüência é que as empresas multinacionais, que dominam a produção de farelo e óleo de soja, vêm transferindo investimentos rumo à vizinha Argentina, onde as distâncias entre o cultivo e o processamento são menores.
Calcula-se que, nos últimos dez anos, o Brasil tenha perdido US$ 2 bilhões em investimentos e US$ 12 bilhões em valor agregado do complexo soja para a Argentina.
Em artigo publicado em março na Folha de S. Paulo, o ex-chanceler Rubens Ricupero afirma que duas das maiores indústrias mundiais de processamento de soja – a Bunge e a ADM – fecharam 11 unidades em território brasileiro, nos últimos anos.
O dólar baixo (caiu mais de 36% em relação ao real entre fevereiro de 2004 e janeiro deste ano) também reduz a competitividade das exportações brasileiras. Nos primeiros dois meses do ano, 596 empresas brasileiras deixaram de exportar enquanto 862 começaram a importar, aproveitando o real fortalecido.
É verdade que a demanda mundial por soja está aquecida, principalmente por conta da gula do imenso mercado chinês. Mas sempre que há uma desaceleração econômica mundial, as primeiras vítimas são os exportadores de gêneros mais baratos, já que o baixo valor agregado facilita a concorrência de produtores mais pobres, cujos custos são ainda menores. A liderança mundial do Brasil na exportação de soja em grãos poderá representar, então, apenas mais terra empenhada, gerando menos valor.
E, acima de tudo, gerando muito menos empregos.
Boletim Mundo n° 3 Ano 14
Nenhum comentário:
Postar um comentário