O Brasil, como se sabe, vem se firmando entre os maiores produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo.
O país já ocupa a liderança entre os produtores mundiais de soja, cana-de-açúcar, laranja, café, mandioca, banana, cacau e milho. É também o maior exportador de carne bovina e aves. Possui, ainda, extensas áreas “disponíveis” para exploração agropecuária.Contudo, desde a década de 30, a importância do setor no conjunto da economia vem decrescendo. No início dos anos 50, a agropecuária era responsável por cerca de um quarto do PIB nacional. Atualmente, responde por apenas 8%. Mas é preciso cautela diante desses números: o agronegócio é maior que a agropecuária, envolvendo cadeias produtivas extensas que abrangem a indústria, os transportes e o setor financeiro. Em conjunto, o agronegócio gera mais de 20% do PIB.
Nas últimas três décadas, a agropecuária é o motor de profundas modificações no espaço rural brasileiro, que ocorrem com grande rapidez, alterando e degradando domínios naturais, especialmente nos cerrados e na Amazônia. Mais de três quartos do Domínio do Cerrado já foram afetados pelo avanço da agropecuária, por conta da expansão dos cultivos (especialmente soja e algodão) e, também, das pastagens. Nas regiões recobertas pela floresta amazônica, cerca de um quinto da vegetação original foi perdido, principalmente nas faixas meridional e oriental do domínio natural (Mato Grosso, Rondônia, Pará e oeste do Maranhão).
Nessas áreas, formou-se uma enorme e quase contínua faixa de áreas degradadas: o “arco do desmatamento”.
O crescimento do volume da produção agropecuária é explicado basicamente por dois processos, que eventualmente se combinam: a incorporação de novos espaços ao processo produtivo e a introdução de novas técnicas que resultam na melhoria da produtividade da terra. No Brasil, durante séculos, o primeiro processo foi dominante. Atualmente, o contínuo incremento do volume da produção agropecuária do país é explicado tanto pela incorporação de novas terras quanto pelo aumento da produtividade.
A dinâmica apresenta diferenciações regionais. Sob o ponto de vista da expansão da produção agropecuária, pode-se reconhecer “três Brasis”: o Centro-Sul, a Amazônia e o Nordeste. No primeiro, predomina o avanço técnico. Na segunda, a incorporação de novos espaços. No terceiro, os dois processos ocorrem em áreas diferentes: incorporação de novas terras para culturas de soja no oeste da Bahia, sul do Piauí e Maranhão; aumento da produtividade da terra nas regiões de fruticultura irrigada do vale do São Francisco.
Os dados do último censo agropecuário realizado pelo IBGE, no já longínquo ano de 1996, esclareceram fenômenos importantes. Entre 1985 e 1996, pela primeira vez na história do país, registrou-se diminuição da área incorporada ao processo produtivo. Também houve redução do número de estabelecimentos agrícolas, assim como da área total cultivada. Como tudo isso ocorreu junto com o crescimento do volume da produção, conclui-se que a produtividade aumentou de modo muito significativo.
Nas regiões mais desenvolvidas do Centro-Sul, onde o avanço técnico é mais rápido, registrou-se contração das terras cultivadas, sem perdas de produção. No entanto, simultaneamente, na Região Norte – no “nortão” de Mato Grosso e sul do Pará, por exemplo – novas áreas foram incorporadas à exploração agropecuária.
O censo agropecuário de 1996 é a luz de uma estrela distante: o registro do passado.
Enquanto aguardam-se os resultados do censo previsto para esse ano, o máximo que se pode fazer é investigar pistas e indícios oferecidos por estudos regionais recentes. Tais estudos sinalizam importantes alterações nos padrões constatados pelo censo de 1996.
O setor agropecuário beneficiou-se com a mudança da política cambial, em 1999. A expressiva desvalorização do real tornou mais competitivo o preço dos produtos brasileiros no mercado mundial, estimulando o agronegócio. Além disso, a partir de 2002, a expansão da demanda internacional acarretou aumento de preços das commodities agrícolas. A soma dos dois fenômenos provocou mudanças substanciais no meio rural, inclusive no que se refere à área plantada, que parece crescer num ritmo expressivo. Os indícios sugerem que houve um rompimento do padrão detectado em 1996, no que se refere à contração da área agrícola.
Ao que parece, a nova expansão da terra de culturas e pastagens não ocorre em todas as regiões do país. No Centro- Sul, provavelmente, continua a se verificar contração da área agrícola, como resultado da expansão horizontal das manchas urbanizadas e da diversificação da economia rural, que abrange uma série de atividades não agrícolas em franco desenvolvimento, como o turismo e o lazer.
Nas regiões Centro-Oeste e Norte, o evidente crescimento da área cultivada sugere, à primeira vista, a incorporação à agricultura de terras de cerrados e florestas. Mas essa conclusão pode ser enganosa. Ao que parece, a nova expansão das terras de culturas se deu, em grande medida, pela conversão temporária de áreas de pastagens “degradadas” ao cultivo de soja. Obviamente, isso não exclui a possibilidade de que terras virgens do cerrado e da floresta amazônica também tenham servido de base para a rápida expansão da área plantada.
Boletim Mundo n° 2 Ano 14
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