A escalada recente dos preços do petróleo, que representa 43% da matriz energética mundial, provoca alertas de analistas: qualquer problema, mesmo sem grande importância, que afete um país de expressiva produção pode elevar os preços para patamares mais altos dos que os registrados nos picos especulativos de 2005. Em agosto do ano passado, o preço do barril chegou a bater em US$ 70. Esse, todavia, está longe do pico histórico de preços, alcançado, em valores atualizados, no começo da década de 80.
Em abril, um artigo do jornalista investigativo Seymour Hersh publicado na revista “New Yorker” divulgou que o governo dos Estados Unidos estudava a possibilidade de bombardear usinas nucleares do Irã. A notícia deixou o mercado petrolífero em polvorosa: o Irã é um dos maiores produtores e o terceiro maior exportador do “ouro negro”.A alta dos preços foi ainda reforçada por informações que davam conta de que guerrilheiros na Nigéria, o quinto maior exportador, estavam se mobilizando para atacar algumas áreas de produção no país.
Além disso, a caótica situação do Iraque e as turbulências políticas na Arábia Saudita, Venezuela e Rússia vêm contribuindo para o agravamento da crise, já chamada por alguns de terceiro “choque de preços” do petróleo.
A expressão é ruim. Há profundas diferenças entre o que acontece atualmente e os “choques de preços” anteriores. As crises passadas foram causadas por importantes eventos ligados à política internacional.
Em 1973, no primeiro “choque de preços”, a crise derivou da decisão de países árabes reunidos na OPEP de reduzir a oferta de petróleo como represália ao apoio americano e europeu a Israel na Guerra do Yom Kippur. Os preços nominais quadruplicaram em poucos meses.
Em 1979, a Revolução Iraniana e, um ano mais tarde, a Guerra Irã-Iraque criaram o cenário propício para o segundo “choque de preços”. Tanto em 1973, como em 1979, a OPEP tinha sob seu controle parte considerável da produção mundial e, nos dois casos, o cartel reduziu a oferta para implementar aumentos de preços.
A situação atual é bem diferente. Desde 2002, o preço do barril vem crescendo continuamente não pela redução da oferta, mas pelo aumento de consumo principalmente por parte dos Estados Unidos (25% do consumo mundial e 1,9% das reservas), China, Índia, Coréia do Sul, Brasil, México e outras economias emergentes.
Hoje, produção e consumo de petróleo estão dramaticamente próximos.
Contudo, é curioso notar que, por enquanto, o impacto da elevação dos preços não causou maiores estragos à economia mundial.
Ao mesmo tempo, registra-se forte diminuição de novas descobertas de campos de petróleo. Se, no passado recente, as grandes empresas do setor descobriam mais petróleo do que podiam extrair, hoje está se extraindo mais do que a capacidade de reposição gerada por novas descobertas.
Nesse contexto de escassez, qualquer interrupção da produção resulta numa alta especulativa dos preços.
O quadro é ainda mais complexo devido à necessidade de ampliação da capacidade das refinarias, que estão trabalhando no limite de sua capacidade para abastecer o mercado de derivados de petróleo. Também estão se tornando mais complexas as logísticas do transporte do petróleo bruto.
Mesmo que a extração mundial, hoje por volta de 80 milhões de barris diários cresça, segundo estimativas, numa média de 2% ao ano na próxima década, esse incremento não satisfará a demanda de mais de 115 milhões de barris prevista para 2025.
Especialistas já sinalizam para uma “era da escuridão”, período que provavelmente começaria por volta de 2020 ou 2025, quando muitos dos grandes campos de petróleo atuais estarão esgotados . Se a Rússia e a Arábia Saudita não conseguirem manter o aumento de suas produções, e se não surgirem novos grandes campos, a “era da escuridão” seria antecipada em uma década.
Caso ocorram simultaneamente em algumas importantes áreas produtoras catástrofes naturais (como o furacão Katrina, em 2005) ou turbulências políticas em alguns grandes produtores como o Irã, Arábia Saudita, Venezuela e Nigéria, o preço poderá romper a barreira dos US$ 100 num futuro não muito distante.
Por outro lado, essa situação gera crescente competição entre os Estados Unidos, a China, o Japão e outros grandes consumidores pelo acesso do que resta das principais áreas produtivas do mundo.
Para garantir sua segurança energética, os grandes consumidores estão forjando laços militares com países produtores, fato que aguça as tensões regionais. Como vários desses Estados apresentam tensões geopolíticas internas, há o perigo das potências se envolverem em questões regionais ou locais, transformando-as em conflitos de maior escala.
Boletim Mundo n° 3 Ano 14
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