sábado, 31 de dezembro de 2011

GLOBAL TRADER OU REGIONAL TRADER?

O Comércio exterior brasileiro atravessou, nos últimos dez anos, dois momentos distintos. Entre 1995 e 2000, o país apresentou déficits comerciais constantes e, entre 2001 e 2005, sucessivos superávits em sua balança comercial. Os dados já divulgados dos primeiros oito meses de 2006 confirmam a expectativa de mais um ano superavitário. Na última década, as exportações cresceram, em média, cerca de 9% ao ano. No último qüinqüênio, o ritmo de crescimento médio anual saltou para 21%.
Esse importante aumento das exportações decorre de uma combinação de fatores favoráveis. Entre eles, destacam- se o forte crescimento da economia mundial, a taxa de câmbio favorável (entre 1999 e 2005), o ganho de produtividade das empresas e o baixo crescimento do consumo interno. O último fator revela que nem sempre a expansão das exportações é algo a ser comemorado...
Todavia, uma análise mais apurada do fenômeno indica que as exportações brasileiras cresceram mais pela quantidade de bens exportados do que pelo valor dos produtos comercializados. Isso significa que o Brasil encontra dificuldades para subir a “escada tecnológica” do desenvolvimento econômico.
As mercadorias exportadas podem ser divididas em dois grandes tipos, segundo a intensidade de capital e conhecimento investidos na sua produção: os bens diferenciados ou industriais (mercadorias de maior valor agregado) e as commodities, isto é, matérias-primas agrícolas e minerais.
Os bens diferenciados subdividem-se em quatro categorias:
● alta tecnologia (aviões, telecomunicações, produtos de informática, farmacêuticos);
● média-alta tecnologia (veículos, maquinas, equipamentos mecânicos, elétricos, produtos químicos);
● média-baixa tecnologia (produtos metálicos, aço, cerâmica, vidro e borracha);
● baixa tecnologia (têxteis, cigarros, calçados, couros).
As commodities, por sua vez, abrangem três categorias: os produtos do agronegócio, os bens minerais e os combustíveis.
Os produtos diferenciados representam atualmente cerca de 53% das exportações brasileiras e as commodities, 47%. É neste último grupo de produtos que o Brasil vem se destacando como um dos principais produtores mundiais.
Somos o país da soja, do café, do açúcar, do algodão, da carne bovina e suína, das aves... Aproximadamente 70% das exportações brasileiras de bens diferenciados referem-se a produtos de média- alta e média -baixa tecnologias, enquanto os produtos de alta tecnologia participam com apenas 7%. No que se refere às commodities, o agronegócio engloba cerca de dois terços do total exportado, seguido de longe pelos bens minerais, com 13%.
Os destinos das exportações brasileiras diversificaram-se nas últimas décadas. Contudo, cerca de 65% das exportações dirigem-se para três grandes mercados, em proporções mais ou menos equivalentes: América Latina, União Européia e Estados Unidos.
A combinação das estatísticas sobre os tipos e categorias de produtos exportados e sobre os destinos das exportações evidencia que:
1. As exportações para a América Latina concentram-se em produtos de média- alta tecnologia.
2. As exportações para a União Européia concentram-se em produtos de baixa tecnologia e commodities.
3. As exportações para os Estados Unidos concentram-se em produtos de baixa e média- alta tecnologia.
4. Como acontece no caso da União Européia, as exportações para a Ásia concentram-se em produtos de baixa tecnologia e commodities.
No caso especial da China, a estrela maior da economia internacional e o quarto maior parceiro comercial individual do Brasil, tais produtos representam mais de 75% do total. Embora o Brasil venha mantendo superávit comercial em relação à China desde 2001, nos últimos dois anos o tamanho desse superávit conheceu rápida redução. O perigo reside no fato de que as principais importações brasileiras de produtos chineses incidem sobre máquinas, aparelhos e materiais elétricos, bens de maior valor agregado do que as matérias-primas que exportamos para a China.
O Brasil apresenta-se, orgulhosamente, como um global trader (comerciante global). As estatísticas solicitam um pouco de humildade: somos um global trader apenas no que se refere às commodities. Em relação aos produtos diferenciados, o Brasil é, quase exclusivamente, um regional trader.

Boletim Mundo n° 5 Ano 14

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