quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O MITO JK: TUDO O QUE O BRASIL NÃO É

José Arbex Jr.

A  Figura de Juscelino Kubitschek (JK) fascina o Brasil, meio século após o início de seu governo (inaugurado em 31 de janeiro de 1956) e três décadas após a sua morte, em acidente automobilístico da Via Dutra (em 22 de agosto de 1976). JK virou tema de mini-série da Rede Globo e é citado como referência e modelo por políticos de todas as cores e matizes, do petista Luís Inácio Lula da Silva ao tucano Geraldo Alckmin, passando por todos os que desejam “vender” uma imagem de progresso e democracia.
JK tornou-se mito. Claro que isso se deve, em parte, à construção de Brasília. Mas outros estadistas ergueram grandes obras e, ainda assim, foram esquecidos.
Mais do que evocar um monumento de concreto e aço, JK é o ícone de uma suposta “idade de ouro” do Brasil.
Em 1956, ao assumir a presidência, JK pôs em prática a fórmula “50 anos [de desenvolvimento] em 5 [de governo]”. O objetivo era promover a industrialização acelerada, segundo um “programa de metas” mediante o qual o Brasil ingressaria na “modernidade”. O programa abrangia 31 metas, distribuídas em seis grupos: energia, transportes, alimentação, indústrias de base, educação e a construção de Brasília (meta síntese). JK conseguiu cumprir boa parte da agenda, gerando um entusiasmo em relação ao futuro que funcionava como bálsamo para aliviar o trauma nacional provocado pelo suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
Entre 1955 e 1961, o aumento da produção de aço foi de 100%, o das indústrias mecânicas de 125%, o dos materiais elétricos e de comunicação foi de 380%, o de equipamento de transportes de 600%. No total, o país dobrou a sua produção industrial e a renda per capita aumentou, em média, 4% ao ano, para um crescimento médio anual de 8,1% do Produto Interno Bruto (PIB), 25% mais elevada do que a do crescimento do resto do mundo. Foram também construídas as hidrelétricas de Furnas e Três  Marias. Mais de 400 empresas multinacionais se instalaram no país. Coerente com a idéia de que o progresso e a integração nacional caminhavam sobre rodas, JK deu início ao processo de construção das rodovias e abriu o mercado brasileiro para as montadoras de automóveis. Em 1959, o economista Celso Furtado, um dos principais inspiradores do governo, criou a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), com o objetivo de promover a industrialização da região.
Claro que tudo isso teve um alto preço. A inflação saltou de 19,2% ao ano, em 1956, para um patamar superior aos 30,9%, em 1960; a dívida externa, que era de 3,42% do PIB, chegou a 4,08% no final de seu mandato.
Em 1957, 400 mil trabalhadores fizeram uma greve geral por reajuste de salários para compensar a inflação.
No nordeste, as Ligas Camponesas reivindicavam reforma agrária, jamais realizada. Finalmente, a opção preferencial pelas rodovias produziu o sucateamento da malha ferroviária, com todas as implicações desastrosas para um país de dimensões continentais.

Um pequeno perfil biográfico
Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em Diamantina (MG), em 12 de setembro de 1902. Nonô foi educado basicamente pela mãe, professora primária, graças à morte prematura de seu pai, por tuberculose. A duras penas, ingressou na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, em 1921. Custeava os seus estudos com o salário de telegrafista.
Atraído para a vida política, Juscelino apoiou o movimento da Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas à sucessão presidencial, disputada em março de 1930. Em abril, Vargas derrotado, JK viajou para Paris, com o objetivo de especializar-se em urologia. Estava fora do Brasil quando eclodiu a revolução de 3 de outubro de 1930. Ao regressar, em fins de novembro, Vargas já havia assumido a chefia do governo. Graças aos bons relacionamentos políticos, em 1931, JK foi nomeado chefe do serviço de urologia do Hospital Militar da Força Pública mineira, no posto de capitão-médico.
Em 30 de dezembro daquele ano, casou-se com Sara Gomes de Lemos, pertencente a família de grande prestígio e influência. Em dezembro de 1933, tornou-se chefe do Gabinete Civil do Estado mineiro, por convite de Benedito Valadares, nomeado por Vargas como interventor. Elegeu-se deputado federal, em 1935, cargo que exerceu até o fechamento do Congresso, com o golpe de 1937. Foi nomeado prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), participou da criação do Partido Social Democrático (PSD), elegeu-se deputado federal (1946-1950) e governador de Minas Gerais (1951-1955).
Concorreu à presidência da República pela coligação PSD-PTB, tendo como vice João Goulart, e tomou posse em 31 de janeiro de 1956, após grave crise política. Juscelino era visto por um setor das Forças Armadas como representante das forças getulistas derrubadas em agosto de 1954. A grande imprensa do Rio e de São Paulo, quase toda anti-getulista, chegava a defender um golpe militar no país para impedir a eventual vitória de JK. Nas páginas de seu jornal Tribuna da Imprensa, o líder udenista Carlos Lacerda acusava Kubitschek de “condensador da canalhice nacional”. A crise foi agravada em agosto de 1955, com a declaração de apoio dos comunistas à sua candidatura. Mas o eventual golpe militar foi impedido, em 11 de novembro, pelos setores legalistas das Forças Armadas liderados pelo general Henrique Lott, ministro da Guerra.
Encerrado o mandato presidencial, JK elegeu-se senador por Goiás (1962-1964). Após o golpe militar de 1964, foi cassado e teve os seus direitos políticos suspensos por dez anos. Exilado, retornou ao Brasil em 1967. Faleceu em acidente automobilístico na via Dutra, próximo a Resende, em 22 de agosto de 1976.

História e Cultura n° 1 Ano 2

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