sábado, 31 de dezembro de 2011

O ÁTOMO TUPINIQUIM

Com o fim do governo militar, o Programa Nuclear Paralelo foi desativado. Mas a Casa Branca não diminuiu as pressões sobre o Brasil. Nos últimos anos, os EUA estiveram à frente de denúncias a respeito da falta de controle internacional sobre a tecnologia de ultra centrifugação de urânio, desenvolvida de forma independente pelo Brasil, diante da resistência dos EUA, Rússia, França, Japão, China e do consórcio Alemanha/Grã-Bretanha e Holanda em transferir tecnologia.
Só que agora, o que estava em jogo não era mais a bomba atômica, mas a disputa de um rico mercado de fornecimento internacional de urânio enriquecido.

O Brasil deve ou não construir Angra 3?
SIM!
Geraldo Lesbat Cavagnari Filho - Coronel da Reserva do Exército e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.
Angra 3 deve ser construída, como todo o programa nuclear. O Ministério de Minas e Energia alega que o custo das hidro e termoelétricas é mais baixo. O Ministério de Ciência e Tecnologia rebate: o material para a instalação de Angra 3 custou entre US$ 700 e 800 milhões e já foi comprado; mesmo que seja necessário o dobro dos investimentos, o que foi gasto não pode ser desperdiçado. O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, diz que não há saída segura aos dejetos nucleares e nem aos reatores. Ainda assim, se o Brasil possui a 3ª ou a 4ª maior reserva de urânio do mundo e uma planta industrial, ele pode participar de um mercado que cresce com o interesse mundial. As potências questionam nosso programa nuclear. Projetos secretos? Não, os fins são pacíficos, temos que atender necessidades médicas, agrícolas e energéticas e por isso brigamos pelo urânio enriquecido. Sofremos pressão para parar, mas não vamos atestar falência. O reator de Angra 3 vai ser mais seguro do que os de Angra 1 e 2. Segurança absoluta não há em nenhum tipo de energia: o rompimento de uma barragem provocaria um verdadeiro tsunami, mas como o efeito nocivo da radioatividade é conhecido, alardeiam mais. Segurança não deve ser entrave: 30% da energia utilizada na Alemanha é nuclear; na Suécia, 45%; no Japão 31%; no Reino Unido, 23% etc. Além disso, como a energia hidrelétrica, a nuclear é limpa, mas não é finita. Já em relação à termoelétrica, a vantagem é decisiva: a energia nuclear não provoca efeito estufa. Por hora, o custo é mais elevado, mas quanto mais usar, mais barato vai ficar.

NÃO!
Frank Guggenheim é ambientalista e diretor executivo do Greenpeace Brasil Somos contrários à construção de Angra 3, pois usinas nucleares são caras. O Programa Nuclear já custou cerca de US$ 40 bilhões; Angra 1 e 2 custaram US$ 20 bilhões; a Eletro nuclear e as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatais deficitárias, custam R$ 2 milhões por dia e esse déficit é coberto pelo subsídio à energia nuclear, cobrado na conta de luz dos brasileiro. Usinas nucleares são ultrapassadas. Países como Alemanha, Espanha e Inglaterra estão abandonando a tecnologia. “Vagalumes”, como são conhecidas devido às constantes paralisações por falhas técnicas, Angra 1 e 2 produzem apenas 2% da eletricidade no Brasil.
Usinas nucleares são sujas e perigosas. Pelo lixo atômico que produzem e que permanece perigoso por milhares de anos, e pelo risco de transporte e acidentes, como o de Chernobyl e Three Miles Island. Por trás de Angra 3 estão: o sonho de retomada do Programa Nuclear brasileiro, idealizado durante os “anos de chumbo”; o projeto do submarino nuclear, que consumiu 10 anos de estudos e US$ 1 bilhão em investimentos, e precisará agora de outros 10 anos e mais US$ 1 bilhão para ser finalizado; o processo de enriquecimento de urânio, que levará 70 anos para amortizar o investimento realizado e a proliferação do risco da radiação pelo país, com a implantação de reatores nucleares no Norte e Nordeste. O Greenpeace acredita que a vocação brasileira está nas fontes renováveis: hidrelétricas, eólica, solar e de biomassa. Fontes que geram energia barata, limpa e segura.

Brasileiros com Saddam Hussein
Cientistas brasileiros colaboraram, nos anos 80, com o programa militar do então ditador iraquiano Saddam Hussein. Mais especificamente, na construção de mísseis. O líder da missão era o brigadeiro Hugo de Oliveira Piva.
Um dos pesquisadores mais brilhantes que já passaram pelo Instituto de Pesquisas Aeronáuticas (ITA), de São José dos Campos (SP), Piva trabalhou – durante o regime militar brasileiro – em diversos projetos de construção de mísseis, como o modelo ar-ar Piranha. E, também, o VLS – Veículo Lançador de Satélites.
Com o fim da ditadura, minguaram os recursos para projetos militares. Piva e outros 26 técnicos e engenheiros brasileiros deslocaram-se então para o Iraque, com o apoio do governo brasileiro.
Mas, em 1990, Saddam Hussein decidiu atacar o vizinho Kuwait e a história de Piva e seu grupo veio à tona.
Piva sempre admitiu haver continuado, em terras iraquianas, a desenvolver seu míssil Piranha.
O que ele nunca admitiu – e jamais foi definitivamente esclarecido – é se esteve à frente do upgrade de antigos mísseis soviéticos, para torná-los capazes de carregar uma bomba atômica a distâncias de até 1.000Km, atingindo, por exemplo, o coração de Israel ou do Irã.
Reportagens nos jornais norte-americanos The New York Times e Christian Science Monitor foram muito além, classificando o brigadeiro Piva como o responsável pelo envio secreto de yellow cake (urânio refinado) brasileiro para Saddam Hussein, em 1981. Piva sempre negou.

Boletim Mundo n° 6 Ano 14

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