Cada novo desenvolvimento tecnológico produz conseqüências radicais no modo de vida dos seres humanos. Basta imaginar o que significou, na passagem do século XIX para o XX, a invenção do telex, do telefone, da luz elétrica, do cinema, do rádio. Por isso mesmo, os grandes inventos sempre são acompanhados de previsões apocalípticas, por aqueles que temem alterações radicais no modo de vida, assim como são saudados como panacéias, remédios para todos os males, pelos entusiastas do futuro. Historicamente, as previsões nunca se confirmaram. Os novos inventos não destroem o passado, mas modificam os costumes anteriores, e lançam incógnitas sobre o amanhã.
Assim, por exemplo, a fotografia fez com que a sociedade criasse uma nova relação com a pintura, que foi libertada da “obrigação” de retratar o mundo. Da mesma forma, o cinema introduziu a sensação de movimento e isso provocou uma nova maneira de encarar a fotografia, que ganhou um forte peso estético. Depois, foi a vez da televisão criar novos problemas para a indústria cinematográfica, e assim por diante.
No caso da internet, muitos analistas, alarmados, temiam que a nova linguagem dos ícones significasse, entre outras coisas, o fim dos livros. Isso não aconteceu, como mostra, por exemplo, os recordes de venda da série Harry Potter. Aliás, o advento da comunicação por e-mail estimulou as pessoas a escreverem, talvez como nunca antes. Mas é claro que a internet provocou uma mudança, ainda em curso, na forma da escrita, embora seja cedo para a formulação de qualquer conclusão taxativa.
Livros e mais livros poderiam ser (e são) produzidos, por intelectuais, políticos, psicólogos e filósofos sobre o impacto da internet em todas as esferas da vida. A rede aboliu a idéia de distância (mas não aboliu a própria distância e suas conseqüências políticas e econômicas). Ela criou uma nova percepção do território, ao possibilitar a troca instantânea de bens simbólicos entre pessoas situadas em dois pontos quaisquer do planeta. Introduziu um novo dimensionamento da economia, ao permitir a prática de transações eletrônicas virtuais – um dos componentes centrais do mundo “globalizado”.
Alterou radicalmente as formas de fazer política, ao colocar em contato “tribos”, agrupamentos ideológicos, organizações e partidos de todo o mundo – sem o que, não teria sido possível, por exemplo, a organização do Fórum Social Mundial.
A lista de novos eventos, possibilidades e, portanto, de problemas e indagações vai ao infinito.
Como será o planeta interconectado daqui a vinte anos? É tão difícil imaginar quanto pensar no mundo hoje sem a internet. De imediato, coloca-se o desafio da “integração digital” e do combate aos monopólios digitais, de modo que, na situação ideal, todos tenham assegurado o direito de acesso à rede. Mas, então, como imaginar um mundo em que 6 bilhões de seres humanos participam de uma mesma teia produtora de sons, imagens, textos? Estamos nos aproximando da “aldeia global” imaginada por Marshall McLuhan, ou, ao contrário, criamos as condições finais para uma guerra civil universal? Só o tempo – esse tambor de todos os hinos – poderá responder.
Boletim Mundo n° 6 Ano 13
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