Mas o oportunismo típico das discussões eleitorais deixará na sombra os “tempos longos”, ou seja, a evolução histórica do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Ao longo do século XX, o PIB do país cresceu 110 vezes, a uma taxa média anual de 4,8%. Só alguns “Tigres Asiáticos” (Taiwan e Coréia do Sul) e países como a Finlândia, Noruega e Japão tiveram crescimento comparável.
Nos “tempos longos”, o Brasil é uma história de sucesso.
Nas duas primeiras décadas do século XX, o PIB do Brasil manteve-se quase estagnado. Contudo, entre 1920 a 1980, os processos combinados de urbanização e industrialização fizeram o PIB dobrar a cada 20 anos. De 1946 a 1964, o interregno relativamente democrático situado depois do Estado Novo e antes da ditadura militar, o país conheceu uma fase de intenso crescimento. Nos “anos dourados” da segunda metade da década de 1950, o Plano de Metas do governo JK promoveu a aceleração de um crescimento econômico que já era significativo.
A partir de 1964, a estratégia dos militares em tornar o Brasil uma potência emergente e a disponibilidade externa de capitais prepararam uma nova fase de crescimento acelerado e diversificação industrial: o “milagre brasileiro”, que se desenrolou entre 1968 e 1974. Na década de 70, o PIB cresceu a taxas médias anuais de quase 9% e durante quatro anos, o incremento foi superior a 10%. Em 1973, a economia cresceu 14%, resultado jamais alcançado em qualquer outro período da história. Em retrospectiva, é fácil dizer que aqueles foram os “anos chineses” da expansão do Brasil.
Todavia, o país continuou vulnerável a crises internacionais, como ficou patente pelas conseqüências geradas pelo primeiro “choque do petróleo” (1973). No ano seguinte, a alta dos juros internacionais desacelerou a expansão da economia.
Em 1978, a combinação dos efeitos da crise do petróleo, da recessão internacional e do aumento das taxas de juros, catapultou a dívida externa para patamares estratosféricos. Em 1979, o segundo “choque do petróleo” agravou ainda mais o quadro econômico, antecipando a moratória da dívida externa que viria anos mais tarde.
Nas duas últimas décadas do século XX, a economia brasileira tendeu à estagnação, apresentando taxas de expansão pouco superiores ao incremento demográfico.
A década de 80 foi dominada pela questão do endividamento externo e por acelerado aumento da inflação.
Como conseqüências da chamada “década perdida”, secaram as fontes de financiamento externo para o desenvolvimento e a inflação fugiu ao controle do Banco Central. A brutal recessão de 1981-1983 anunciou o fim do regime militar. A moratória foi decretada em 1987, já no governo civil de José Sarney.
A década de 90 também apresentou crescimento pífio, com exceção dos anos de 1994 e 1995, quando o Plano Real impulsionou a atividade econômica.
Em 1997 e 1998, o crescimento voltou a cair, principalmente como reflexo das crises internacionais na Ásia e na Rússia e dos rumos da política econômica nacional (altas taxas de juros e câmbio valorizado). Naqueles anos, o crescimento não atingiu a 1%, ficando abaixo do crescimento populacional.
Em 2000, esboçou-se uma recuperação, mas ela foi abortada por conta da crise na Argentina, da desaceleração da economia americana e da crise interna de energia. Em 2002 e 2003, o crescimento continuou baixo devido às incertezas relacionadas à eleição presidencial e à retração da economia mundial. Em 2004, por conta de conjunturas internas e externas favoráveis, o PIB cresceu 5,2%, o maior incremento desde 1994. Lula comemorou o resultado e prometeu repeti-lo, mas o decepcionante resultado de 2005 jogou as taxas médias do seu governo na vala comum da última década.
Uma análise do PIB brasileiro nos últimos 25 anos revela que o país teve não uma, mas “duas décadas e meia perdida”.
Nesse quarto de século, o crescimento médio do PIB superou por pouco os 2% anuais, muito abaixo da expansão registrada nas décadas anteriores. A outra conclusão é que quase não há diferença de crescimento entre a “era FHC” (1995-2002), que exibiu crescimento médio de 2,7%, e os três anos do governo Lula, que sem crises externas não conseguiu mais do que 3%.
O sucesso da minissérie JK e as insistentes, até patéticas, tentativas de Lula de se apresentar como herdeiro do “presidente bossa-nova” evidenciam uma nostalgia dos anos de ouro da expansão econômica brasileira. O eterno “país do futuro” olha pelo retrovisor, admirando paisagens do seu passado.
Boletim Mundo n° 2 Ano 14
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