A sua bandeira era o estabelecimento de um Estado para os judeus. Essa bandeira desdobrou-se na campanha pelo “retorno” à Terra Santa, através da aquisição de terras e do assentamento de imigrantes judeus na Palestina.
A imigração, organizada pelas agências do movimento sionista, desenvolveu-se aceleradamente no entre- guerras. Desde 1918, com a ruína do Império Turco-Otomano, a Palestina tinha se tornado mandato britânico e a potência mandatária, através da Declaração Balfour (1917), havia se comprometido a possibilitar a criação de um Estado judeu no território.
A colonização judaica provocou sangrentos conflitos com a população árabe nativa. Em muitos lugares, as terras adquiridas pelo movimento sionista estavam ocupadas, há gerações, por pastores e camponeses que não detinham títulos de propriedade.
As expulsões de residentes pelos novos colonos, organizados militarmente, geraram revoltas árabes que, na década de 30, desestabilizaram a Palestina. Israel, originalmente, foi uma singular colônia de povoamento européia: uma colônia criada por um movimento nacionalista, não por um Estado imperial.
No final da Segunda Guerra Mundial, a revelação do Holocausto promovido pelo nazismo horrorizou a opinião pública internacional. Em 1947, a ONU decidiu encerrar o mandato britânico na Palestina e promover a partilha do território em dois Estados. A resolução contou com o apoio de Washington e Moscou, mas teve a oposição decidida dos novos Estados árabes.
O plano de partilha conduziu à guerra entre o novo Estado de Israel e uma coalizão de países árabes integrada pelo Egito, Síria, Jordânia e Iraque. A guerra de 1948-49, que terminou com a vitória de Israel, deixou como legado uma população de refugiados palestinos no Oriente Médio.
Os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que seriam parte do Estado Palestino, ficaram sob a “proteção” da Jordânia e do Egito. Jerusalém foi dividida, ficando a parte ocidental da cidade sob o controle de Israel e a parte oriental, que abrange a Cidade Velha e era habitada quase exclusivamente por árabes, sob a “proteção” da Jordânia.
O Egito, sob a liderança de Gamal Abdel Nasser, fez da oposição a Israel a sua principal bandeira geopolítica. Israel sintetizava, aos olhos dos árabes, a opressão colonial européia e, de modo geral, a arrogância imperial do Ocidente.
Nesse contexto, o Egito montou uma coligação, com a Síria e a Jordânia, que enfrentou Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Mas o desastre militar constituiu um golpe fatal nas aspirações de unidade árabe e acarretou a ocupação de territórios palestinos, sírios e egípcios. Desde o início, o sionismo encarava toda a Palestina – a “Terra Santa” – como o lar nacional judaico. Esse impulso expansionista expressou-se, após a Guerra dos Seis Dias, na colonização israelense dos territórios palestinos ocupados (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Leste). Os assentamentos iniciaram-se sob o governo do Partido Trabalhista mas aceleraram-se, após 1977, sob o Likud. No total, cerca de 190 mil colonos israelenses instalaram-se na Cisjordânia e algo como 10 mil em Gaza. Além disso, 175 mil fixaram residência na parte leste de Jerusalém.
O projeto expansionista sofre, atualmente, um importante redirecionamento. As intifadas (revoltas palestinas) e, sobretudo, o elevado crescimento demográfico da população árabe geraram um consenso político em Israel favorável à separação política e física entre o Estado judeu e um futuro Estado palestino.
Esse consenso traduz-se na estratégia israelense de definição unilateral de fronteiras. A retirada de Gaza, conduzida em 2005, e a projetada anexação de partes da Cisjordânia (os maiores blocos de assentamentos e o estratégico vale do rio Jordão) configurariam as fronteiras definitivas. O “muro de segurança” na Cisjordânia, em plena edificação, destina-se a materializar a fronteira como um front militar. Do outro lado do front, sobrariam fragmentos de territórios desconexos que, cinicamente, são apresentados como o embrião do Estado Palestino.
Boletim Mundo n° 1 Ano 14
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