No dia 12 de maio será entregue ao presidente Itamar um abaixo-assinado pelo fim do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha; já foram coletadas 100 mil assinaturas.
Ruy Goes
Nos próximos meses, o g o v e r n o deverá decidir se continua ou não as obras da usina nuclear Angra II. Esta é uma decisão que afeta a todos nós, não só pelos riscos envolvidos na operação de centrais nucleares como também pelo uso de nosso dinheiro.
Os que defendem as usinas nucleares alegam que são necessárias ao d e s e n v o l v i m e n t o tecnológico do país. No entanto, trata-se de uma tecnologia dos anos 50, que vem sendo abandonada por diversos países. Nos Estados Unidos, há mais de 20 anos não se inicia a construção de novas usinas nucleares. Na Áustria, Itália e Suécia, a população decidiu em plebiscito abandonar a energia nuclear. Enquanto isso, o Brasil, que tem outras alternativas energéticas mais baratas e seguras, segue na contramão.
O abandono progressivo das usinas nucleares é movido em grande parte pela recusa da população em conviver com o risco de acidentes e com o lixo atômico. Um único acidente, como o de Chernobyl, poderia causar milhares de vítimas e inutilizar áreas enormes. Mesmo a operação normal das usinas produz elementos radiativos que permanecerão perigosos por dezenas de milhares de anos. Não há técnicas aceitáveis para a guarda deste material com segurança por um tempo equivalente ao da existência do Homo Sapiens na Terra.
Além disso, a energia nuclear é cara. Angra II faz parte do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975 e que previa a construção de oito usinas e outras instalações ligadas ao chamado ciclo do urânio. Dezessete anos depois, gastou-se bilhões de dólares para não produzir nenhum quilowatt de energia. Só Angra II, iniciada em 1977, já consumiu mais de 5 bilhões de dólares, sem contar os custos financeiros, de acordo com relatório do Tribunal de Contas da União. Isto significa que cada família brasileira “contribuiu’’ com dois salários mínimos para a obra. Para terminá-la, segundo previsões oficiais, seriam necessários outros 2 bilhões de dólares, o equivalente ao orçamento anual da cidade de SP. Os defensores da usina alegam que já se gastou tanto que agora não faz mais sentido parar. Algo como: o erro é tão grande que temos que errar mais ainda. O pior é que estas previsões não são confiáveis. Todas as projeções de gastos feitas por Furnas, a estatal responsável por Angra II, foram desmentidas pela realidade.
É hora de parar esta loucura. Para isso, a Greenpeace e outras entidades estão promovendo um abaixo-assinado dirigido ao presidente Itamar, pedindo o abandono de Angra II e o rompimento do Acordo Nuclear. Até o início de abril, já havíamos coletado mais de 100 mil assinaturas, que serão levadas a Brasília por uma “Caravana Anti nuclear”. A caravana sairá de Angra dos Reis e passará por Paraty, Rio, Resende, Taubaté, S. J. dos Campos, SP, Sorocaba, Itu, Campinas, Americana, Rio Claro, Araraquara, Ribeirão Preto, Uberaba, Uberlândia, Monte Alegre e Goiânia. Serão três semanas de estrada, com manifestações, debates e atividades, até a chegada em Brasília, no dia 12 de maio.
Ruy de Goes é Coordenador Regional de Energia Nuclear da Greenpeace
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