sábado, 1 de janeiro de 2011

Editorial Muro de Berlim

A queda do Muro de Berlim, em 3 de novembro de 1989, removeu da vida das pessoas o espectro de Stalin. Ponto culminante das revoluções democráticas que varreram os regimes totalitários da Europa oriental, aquele evento parecia anunciar um horizonte de maior liberdade, uma convivência humana isenta dos fanatismos ideológicos, da intolerância e da violência política.
Apenas dois anos depois, na mesma Alemanha (agora reunificada), ressurge um  outro espectro. Atrás de suásticas desafiadoras e dos bandos de desqualificados que apedrejam imigrantes e incendeiam os seus abrigos, delineiam-se as feições de Hitler. É como se das cinzas do totalitarismo stalinista renascesse o totalitarismo gêmeo, o par oposto e simétrico que foi o nazismo.
Mas não vale culpar a “alma alemã”.
A intolerância e violência difundem-se nas campanhas de “purificação étnica” na Bósnia, nas manifestações extremistas de Le Pen na “civilizada” França, nos separatismos xenófobos emergentes na Itália e na Bélgica.
Neste ponto, aliás, o Brasil nada fica a dever. Apesar de um  certo “folclore” segundo o qual não há racismo ou preconceito neste país, a violência de Estado atinge em cheio os mais pobres, de maioria composta por negros e nordestinos. Como trágica demonstração disso, permanece impune o genocídio praticado pela PM na Casa de Detenção do  Carandirú, em São Paulo.
Mas culpar todo um povo pelo racismo- por exemplo, os alemães – é raciocinar no interior da lógica perversa do preconceito. Afinal, partiu dos próprios alemães a senha democrática: perto do Natal, todos os times de futebol trocaram as grifes dos patrocinadores pela frase estampada na camisa – “Meu amigo é um estrangeiro”.

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