segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Nova Ordem Econômica Mundial- Desemprego Estrutural assola Europa e Atinge EUA e Japão

Cúpula dos países ricos (G-7), realizada em março, em Detroit, deixa de lado grandes temas mundiais para discutir treinamento de mão-de-obra e custos salariais; desemprego nasce da globalização e da revolução científica.
D etroit foi o cenário, nos dias 14 e 15 de março, da já usual cúpula do G-7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha e Canadá). Desta vez, a pauta restringiu-se a apenas um item, desconhecido nas cúpulas anteriores: a questão do desemprego. Acostumados a tomar decisões macroeconômicas de impacto mundial, o G-7 contentou-se a trocar idéias sobre um tema considerado, até há pouco, como assunto doméstico.
O crescimento do desemprego na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne os países ricos), verificado na década de 80, prossegue no novo decênio. Quatro países do G-7 exibem taxas mais elevadas que a de dez anos atrás. Apenas os  Estados Unidos e o Japão permanecem distantes da fronteira crítica do 10% de desemprego . No Japão, o pleno emprego tem sido  assegurado pelas barreiras formais e informais que protegem o mercado interno e permitem e convivência de setores ultramodernos com outros tradicionais como a agricultura (que ainda absorve 7% da população ativa). Esse esquema tende a desmoronar, sob os golpes da abertura comercial desfechados pelos recentes acordos da  Organização Mundial do Comércio. Nos EUA, a criação de empregos depende da ampliação dos desníveis salariais, já muito maiores que os europeus. Na Europa, as altíssimas taxas da França e Itália ainda parecem pequenas perto dos 23% da Espanha.
O desemprego acentua a crise nas grandes cidades e se expressa no aumento da criminalidade e na formação de guetos geográficos e culturais. Ele também é fonte da instabilidade política e da descrença nas instituições e partidos tradicionais que alimentam novos grupos extremistas europeus. A cúpula de Detroit discutiu dois tipos de políticas para incentivar geração de empregos. De um lado, projetos de treinamento e qualificação de mão-de-obra, visando adaptá-la   aos novos padrões tecnológicos. De outro, a flexibilização do mercado de trabalho, através de congelamentos salariais e cortes de custo indiretos dos empregadores (impostos, taxas previdenciárias etc). Na França, o governo conservador de Edouard Balladur enfrentou um mês de manifestações estudantis contra seu projeto de criar um “salário mínimo de inserção”, que visava reduzir os níveis salariais legais para os jovens e teve de ser retirado da votação.
As soluções de Detroit representam uma curiosa combinação de intervencionismo estatal com neoliberalismo. Gastos públicos para treinamento da mão-de-obra significam subsídios para empresas, financiados pelos contribuintes. Flexibilização de salários e  corte nos custos indiretos significam golpes contra os sindicatos e as redes de proteção social criadas no pós-guerra. Mas, não passam de paliativos. As taxas de desemprego acompanham as profundas mudanças em curso na economia mundial. O primeiro aspecto desta mudança é a globalização, que transfere empregos da indústria manufatureira dos países ricos para os países industriais  emergentes. O crescimento da oferta de emprego na manufatura no leste asiático reflete as estratégias de relocalização das corporações, que procuram vantagens em custos mais baixos com a força de trabalho. O segundo é a revolução tecno-científica, caracterizada pela explosão da informática e da robótica, que assegura a permanência dos ramos manufatureiros mais modernos nos países ricos às custas da redução da mão-de-obra. A manufatura americana gera hoje quase o dobro do valor que gerava em 1970 mas emprega menos trabalhadores.
Detroit é o cenário perfeito para discutir emprego. Lá, há quase 90 anos, Henry Ford criou a técnica da linha de montagem, base da produção em série e símbolo do capitalismo industrial nascente. É lá que, premidas pela concorrência asiática, as montadoras americanas exibem novas “fábricas enxutas”, eliminando postos de trabalho e acelerando a produção. O capitalismo tecnológico é o berço do desemprego de massa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário