quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Bombardeio do Líbano foi estratégia eleitoral de Shimon Peres

Durante a segunda quinzena de abril, as forças armadas de Israel empreenderam uma ação bélica de envergadura contra amplas áreas do sul do Líbano, apimentando o indigesto banquete do “processo de paz” no Oriente Médio. Como resultado  dos ataques israelenses, mais de 500 mil civis tiveram que ser removidos às pressas de seus lares, numa situação de pânico e desolação. Os ataques chacinaram centenas de crianças, mulheres e velhos que nada tinham a ver com os conflitos.
O Líbano é um pequeno país, com pouco mais de 10 mil km2 (equivalente a metade de Sergipe), localizado junto ao Mediterrâneo oriental, numa das áreas mais tensas do Oriente Médio. Os três milhões de libaneses formam um complicado emaranhado religioso. São 18 comunidades distintas, destacando-se os muçulmanos xiitas (35%), sunitas (25%) e drusos (10%), e os cristãos maronitas (25%), além de refugiados palestinos, gregos ortodoxos e armênios. As comunidades mais numerosas têm representação político-partidária.
Para complicar, sempre existiram no país inúmeras milícias rivais: organizações para-militares ligadas a partidos ou a clãs religiosos. Os Acordos de Taif, de 1989 -que puseram fim à sangrenta guerra civil iniciada em 1975 e formalizaram a tutela da Síria sobre o país- decidiram pelo desarmamento dessas milícias. No entanto, algumas não entregaram seus arsenais e, entre elas, a Hezbollah (Partido de Deus), diretamente vinculada ao governo iraniano. Representa a ala mais radical dos xiitas libaneses.
Desde 1982, Israel controla uma estreita faixa do sul do Líbano, considerada pelo Estado israelense como área estratégica para a segurança de sua fronteira setentrional e da Galiléia. Em represália à ocupação israelense, o Hezbollah periodicamente lança chuvas dos velhos mísseis soviéticos Katiucha contra a “faixa de segurança” e o norte israelense. Mas o desencadeamento da ação militar de Israel contra o Hezbollah transitou mais pela esfera eleitoral que pela militar: com os devastadores ataques aéreos, o primeiro-ministro Shimon Peres procurou formar em torno de si uma auréola guerreira, a fim de contrabalançar as pesadas críticas da oposição .
A ação de Peres deve ser encarada como uma mensagem ao eleitorado israelense, mas também aos governos do Líbano e Síria. Do primeiro, Israel quer o desarmamento do Hezbollah; do segundo, que deixe de apoiar política e materialmente a organização xiita.
O cessar-fogo de 26 de abril, patrocinado pelos Estados Unidos, trouxe alívio aos civis libaneses e israelenses, principais vítimas dos combates, mas não resolve a situação. A paz no Líbano depende de um acordo mais amplo, entre Israel e a Síria. A Síria quer ter de volta as colinas de Golã, ocupadas desde 1967. Vencendo as eleições, Shimon Peres poderá devolvê-las, mediante a eliminação prévia do Hezbollah.
Boletim Mundo Ano 4 n° 3

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