Ubirajara Reis Pimenta Júnior
Eu havia acumulado muita expectativa desde que decidi fazer uma viagem ao Oriente Médio.
O Egito é fascinante: história, costumes, cultura, tudo contrasta com o que conhecemos. A cidade do Cairo, dividida pelo Nilo, é repleta de largas avenidas que cruzam ruas estreitas, apinhadas de gente e táxis. O trânsito é caótico: os semáforos, assim como os guardas, não são respeitados. Embora muito pobre, o Egito não apresenta, aparentemente, perigo de roubo ou qualquer outro tipo de violência ao turista. O policiamento é mais intenso nos locais de visitação pública e pontos turísticos ou estratégicos.
A zona mais intensamente vigiada é Assuã, onde se situa a grande barragem. Em toda a cidade, avistam-se patrulhas de policiais armados com fuzis e vestindo uniformes do exército.
A religião predominante é o islamismo, cujos valores são preservados à luz do fanatismo. Nas regiões ao redor do Cairo e nos vilarejos situados às margens do Nilo, as mulheres vestem as tradicionais túnicas e levam a cabeça sempre coberta. No entanto, na região metropolitana, há interferência de valores ocidentais no comportamento de algumas mulheres, sobretudo as mais jovens. Jaquetas e saias jeans, tênis em conjunto com os lenços sobre a cabeça, sempre brancos ou pretos, independentemente do estado civil. Como se costuma dizer, o Egito é o Nilo, o Nilo é o Egito. Ao voar do Cairo para Luxor pela EgyptAir pude vislumbrar a tortuosa linha negra serpenteando e cortando o vasto deserto. Apenas uma faixa verde muita estreita acompanha o rio, alargando-se ora à margem direita, ora à esquerda. A vida toda do país se concentra nessas margens.
Depois do Egito, o próximo destino seria Israel, a “Terra Santa”. A tranqüilidade foi substituída pela tensão que se instaurou ainda antes da saída, no aeroporto do Cairo. Os passageiros com destino a Israel foram encaminhados a uma ala especial e submetidos a um rigoroso questionário, revista de bagagens, conferência de documentos, que duraram bem mais de uma hora. Na saída do Egito, soldados armados acompanham a “operação”, desde a sala de espera até a entrada no avião.
Em janeiro, a atmosfera que encontrei em Israel era calma. Após a crise provocada pelo assassinato de Rabin, parte dos territórios ocupados haviam sido entregues aos palestinos. As fronteiras estavam liberadas, embora houvesse barreiras nas divisas com Jericó e Belém. O que o grupo de turistas desconhecia, encantado com a modernidade e o desenvolvimento do país (em oposição à miséria encontrada no Egito), era que apenas dois dias antes da nossa chegada, Yahya Ayash, o “engenheiro”, radical muçulmano que fabricava bombas, havia sido assassinado pelos serviços secretos israelenses. Após visitar alguns pontos de interesse, fomos levados à região central da cidade, onde está a agitada rua Desengoff, local das lojas mais requintadas. Num ponto do trajeto, antes de chegar ao shopping-center, o sempre calmo e eficiente Moshe, motorista do micro-ônibus que nos conduzia, parou. Logo adiante, num espaço de um quarteirão, dois carros da polícia israelense faziam uma barreira impedindo o acesso à área. Um soldado, devidamente armado, aproximou-se da janela do ônibus e informou ao guia o que estava acontecendo: suspeita de haver bomba naquele local, como vingança pela morte do “engenheiro”.
A angústia em que vivem os israelenses no seu dia-a-dia foi sintetizada por um comentário de nossa guia, Orly, corpulenta mulher de seus trinta anos: “Nós éramos um povo, e não poderemos mais ser os mesmos, como antes”.
A convivência com as forças armadas faz parte do cotidiano dos israelenses. Soldados armados compõem a paisagem urbana. O serviço militar é obrigatório para homens e mulheres.
Os primeiros servem por três anos; e as segundas, por cerca de um ano. Entretanto, judeus religiosos e muçulmanos árabes são dispensados. Até os 40, os homens comparecem uma vez por ano, durante um mês, ao serviço militar. Caso o indivíduo tenha cinco filhos antes dessa idade, é dispensado do compromisso.
As diferenças religiosas e culturais puderam ser melhor observadas quando saímos de território israelense e entramos nas áreas de autonomia palestina. Verdadeiras barricadas são construídas nas fronteiras, obrigando os veículos a passar, um a um, em marcha reduzida. A paisagem, nesses territórios, muda radicalmente. Nada da modernidade e desenvolvimento vistos no restante do país. Nas fronteiras com Jericó, os campos de refugiados foram transformados em bairros semelhantes às favelas brasileiras. Em Jerusalém, porém, cristianismo, judaísmo, islamismo confrontam-se no dia-a-dia. O fanatismo religioso é a maneira de cada segmento marcar suas convicções. Dentro das muralhas que circundam a cidade velha predominam os árabes muçulmanos, que dividem espaço entre as inúmeras lojinhas e mercados e as estações da tradicional “via crucis”. No sábado, deixamos as ruas desertas da áreas judias e encontramos, apenas ao cruzar uma avenida, a agitação típica dos bairros árabes.
Boletim Mundo Ano 4 n° 3
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