terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

E D I T O R I A L- Jerusalém

Jerusalém e Asquelom, 25 de fevereiro: 26 mortos. Jerusalém de novo, 3 de março: 18 mortos. Tel Aviv, 4 de março: 14 mortos. Os assassinos foram terroristas suicidas, pessoas desconhecidas, portando sacolas com dinamite e pregos. Em Jerusalém, as cargas mortais foram detonadas na linha de ônibus número 18. Em Asquelom, num ponto de ônibus. Em Tel Aviv, na calçada, após uma tentativa frustrada de entrar num shopping-center lotado de mulheres e crianças que compravam fantasias para o feriado religioso do Purim. As vítimas compartilham uma característica dos assassinos: são pessoas anônimas.
Aí está o horror maior - na morte cega, distribuída ao acaso.
Os terroristas não agiram sozinhos. Não são loucos, mas elos de uma corrente macabra. A cada um deles, um xeque, na segurança do seu esconderijo, prometeu as graças divinas e todos os prazeres de 72 virgens no paraíso da outra vida. Cada um deles detonou a sua bomba cumprindo um plano prévio, em lugares e horários definidos por uma facção do Hamas que persegue um objetivo político: a destruição do processo de paz no qual se engajaram a OLP e o Estado de Israel. O historiador Arnold Toynbee, escrevendo em 1972 sobre a chacina do Setembro Negro que vitimou atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique, apontou a inutilidade política do terror: “Essas ações produzem o efeito contrário ao desejado por quem as perpetra.” Desastrosamente, as reações do governo de Israel à onda de atentados parecem estar desmentindo o historiador.
Retomando práticas abolidas progressivamente depois do início do processo de paz, Israel bloqueou não apenas o trânsito de palestinos entre a Cisjordânia e Gaza e o seu território como também toda a circulação entre as cidades e povoados palestinos. Centenas de milhares de palestinos foram impedidos  de chegar aos locais de trabalho em Israel, ou de se abastecer ou visitar parentes. Casas de familiares dos terroristas foram dinamitadas, deixando-os desabrigados. A teoria da punição coletiva e o método do terror de Estado ressurgiram pelas mãos de um Shimon Peres acossado pela disputa eleitoral com o Likud.
O que Israel faz não é igual ao que fazem os terroristas suicidas. Mas a filosofia oculta nessas reações guarda uma perigosa semelhança: assim como os homens-bomba não escolhem seus alvos, o Estado de Israel trata todo o povo palestino como inimigo, ignora direitos humanos básicos e deflagra uma guerra cega. Os xeques do Hamas agradecem.
Boletim Mundo Ano 4 n°2

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