O jornalista americano John Reed cobriu, como repórter, a revolução de Zapata e Pancho Villa, foi correspondente de guerra na Europa conflagrada entre 1914 e 1916 e acompanhou a Revolução Bolchevique na Rússia, onde morreu, pouco depois, vitimado pelo tifo. Comunista, tornou-se o único estrangeiro a ter as suas cinzas enterradas nas muralhas do Kremlin, atrás do Mausoléu de Lenin. Na passagem seguinte, ele relata o enterro dos operários que tombaram na luta pelo controle de Moscou, poucos dias após a vitória revolucionária, em novembro de 1917.
“Ondas de povo e milhares e milhares de seres, com o sofrimento gravado nas fisionomias, precipitavam-se pelas ruas, invadindo a Praça Vermelha.
Chegou uma banda militar. E o som da Internacional fez com que todos, espontaneamente, começassem a cantar. O canto ergueu-se da multidão, como uma onda que se alteasse sobre a água, em tom solene, majestoso. Da muralha do Kremlin, pendiam até o solo gigantescas bandeiras vermelhas com inscrições em letras douradas e brancas: “Aos primeiros mártires da Revolução Social Universal !” “Viva a fraternidade dos trabalhadores do mundo inteiro !”.
Um vento frio varria a praça, fazendo tremular os estandartes. Os operários das fábricas chegavam dos bairros distantes, trazendo seus mortos (...).
O cortejo fúnebre, entrando pela Porta da Ibéria e saindo da praça pela Nikólskaia, desfilou o dia inteiro, como um rio de bandeiras vermelhas, com palavras de esperança e fraternidade, com profecias audaciosas, varando uma multidão de cinqüenta mil almas, debaixo dos olhares do mundo inteiro e da posteridade.” (John Reed, Os dez dias que abalaram o mundo).
Boletim Mundo Ano 4 n° 6
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