quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Acordo Israel- OLP Abre Nova Era no Oriente Médio

Convivência  forçada de judeus e palestinos impôs o reconhecimento mútuo, enterrando a histeria do faz de conta que –eles não existem.
Após 46 anos de conflitos, a Organização para a Libertação da Palestina  e Israel, assinaram, em 13 de setembro, um acordo de paz, quatro dias após o reconhecimento mútuo. Muitos fatores, que serão analisados em seguida, concorreram para impor o acordo. Mas a questão central foi colocada de forma brilhante pelo intelectual palestino Edward Said. No Mundo n.° 2, Said escrevia:
Os dois povos estão nisso juntos. Sem simpatias, mas juntos. Talvez,lentamente  melhore  sua relação. Israel  foi fundado com base na negação da existência dos palestinos (“uma terra sem povo para um povo sem terra” – era o lema sionista). Nas décadas posteriores, palestinos e árabes construíram suas políticas com base no não reconhecimento de Israel . A dupla negação impedia o diálogo. Mas, a proximidade física acabaria se impondo ao vazio artificial. Em Israel, o  radicalismo mostrou seu esgotamento nas eleições do 2° semestre de 92, que deram vitória à coalizão liderada pelo Partido Trabalhista, que derrotou o Likud e os intransigentes partidos de direita, no poder desde os anos 70. O trabalhista Shimon Peres, chanceler, foi um dos arquitetos do acordo.
Do lado palestino, os grupos mais radicais da OLP foram marginalizados, desde que seu presidente, Iasser Arafat, anunciou, em 1988, que renunciava à luta armada, e que estava disposto a negociar a paz em troca de um acordo sobre os territórios da Cisjordânia e Gaza, ocupados por Israel desde 1967. A Intifada (revolta das pedras, em árabe), por outro lado, mostrava que Israel nunca conseguiria “pacificar” os territórios.
O acordo foi possibilitado pelas mudanças na ordem mundial. O fim da URSS – que partilhava o Oriente Médio com os EUA; a Guerra do Golfo – que neutralizou o Iraque; a falta de ajuda financeira à OLP por parte dos árabes; e, sobretudo, a pressão dos EUA contra o radicalismo de Israel – que se explica pelo fato de que Washington tem que ampliar a base de sustentação na região, estratégica e exposta a grandes tensões religiosas e geopolíticas.
ANISTIA INFORMA
Nesta seção, Mundo divulga relatórios da Anistia Internacional sobre o comportamento dos países em relação aos Direitos Humanos.
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* em São Paulo: Rua Vicente Leporace, 833 CEP 04619-032 fone: (011) 542-9819
A recente chacina dos índios yanomani tem suas causas na política governamental. Veja, em seguida, o relatório da Al de 1992, -NR): Os yanomani, que em 1988 mantiveram seu modo de vida tradicional. Suas terras estão situadas em ambos os lados da fronteira do Brasil com a Venezuela. Desde os anos 70, elas vêm sendo invadidas por posseiros, devido a projetos do governo que estimulam a exploração e formação de assentamentos em terras indígenas.
Depois de 73, o Programa de Integração Nacional levou colonos e garimpeiros àquela região. Uma nova “febre do ouro” começou em 1987, quando o projeto Calha Norte – de inspiração militar – incentivou a colonização do norte. Depois de 87, aumentaram as denúncias de violência de garimpeiros armados, que o governo pouco fez para evitar menos ainda para punir (…) A retirada, à força, da região, de missionários italianos ocasionou um aumento da taxa de mortalidade dos índios por doenças infecciosas (levadas por garimpeiros) e envenenamento com mercúrio. Sob pressão internacional, o governo demarcou as terras yanomani, mas os abusos continuaram. Em fevereiro de 1992, o governo proibia a entrada de jornalistas e pesquisadores em terra yanomani.
EDITORIAL
O acordo entre Israel e a OLP marca uma nova era no Oriente Médio.
Nem tudo está resolvido – resta o problema crucial da criação do Estado palestino e da definição do estatuto de Jerusalém. Mas, pela primeira vez há chances de paz. O outro lado desse quadro “otimista” é o caos social e político em que está mergulhado o Oriente Médio (Israel inclusive) e o Islã (árabe e não-árabe).
Desde 1947, os Estados árabes usaram a retórica da “guerra santa” contra Israel para justificar ditaduras (como na Síria), ocultar a miséria (como no Mangreb e Egito) e desigualdades sociais extremas (como na Arábia Saudita), e praticar um obscuro jogo geopolítico (como o Iraque de Sadam Hussein ou o “panarabismo” de Gamal Abdel Nasser). Líderes do Islã e fundamentalistas fizeram da “guerra santa” um demagógico apelo ao fanatismo (como Khomeini, ou os grupos Hamas e Irmandade Islâmica).
Em Israel, a contrapartida foi o fortalecimento da extrema-direita (como o Likud), que, agitando o espectro da “ameaça árabe”, alimentava os delírios imperialistas da Grande Israel (que compreenderia a área englobada por Síria, Jordânia, Líbano e Iraque).
Isso acabou. Deslocado o fantasma do “inimigo externo”, as contradições internas de cada Estado no Oriente Médio tenderão a aflorar. Não será uma era de paz, mas de maior transparência. Pelo menos, é um caminho que talvez não conduza ao Armagedon.

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