A eleição de Bill Clinton trouxe uma novidade conceitual para a diplomacia americana: a noção de “segurança econômica”. Durante a Guerra Fria, a liderança de Washington no Ocidente apoiou-se na combinação de arsenais nucleares e hegemonia econômica. O Plano Marshall, de reconstrução das economias de mercado na Europa Ocidental no pós-guerra, foi a expressão mais nítida dessa época. A promoção do livre comércio e prosperidade entre os aliados constituía uma dimensão do confronto com a superpotência rival. Segurança era uma noção essencialmente geopolítica.
Mas as coisas mudaram. O fim da Guerra Fria coincide com o encerramento da hegemonia econômica americana. A economia mundial descortina um cenário multipolar, no qual os conglomerados empresariais japoneses e europeus desafiam as posições americanas. A herança de Reagan e Bush – imensos déficits público e do balanço de pagamentos- sinalizam a decadência da América. A reviravolta diplomática de Clinton é expressão dessa nova época, na qual as ameaças ao poderio americano provêm menos dos arsenais russos e mais das fábricas asiáticas e alemãs ou dos agricultores franceses. A “ofensiva econômica” de Washington está orientada para a conquista de mercados e a promoção de exportações. Os alvos prioritários são o Japão – acusado de erguer uma fortaleza inexpugnável em volta do seu mercado doméstico- e a Comunidade Européia – acusada de capturar os mercados de alimentos dos agricultores americanos a golpes de subsídios. Essa última questão – a “guerra agrícola” EUA / CEE – ameaça destruir de vez a interminável Rodada Uruguaia do GATT (Acordo Geral de Comércio e Tarifas). Essas negociações comerciais, iniciadas em 1986, estão na iminência de fracassar, atirando o planeta na selva da guerra comercial e protecionismo generalizado.
Nesse terreno minado, os Estados Unidos multiplicam iniciativas direcionadas à preservação e ampliação da sua liderança estratégica. A Guerra do Golfo, em 1991, pareceu descortinar um vasto campo para a imposição da “pax americana”, sob os auspícios da ONU.
Em 1993, os fracassos na Bósnia (onde a guerra étnica revelou a impotência dos EUA e da CE) e na Somália (onde a “missão humanitária” tornou-se um atoleiro militar) atestam os limites para a ação de Washington.
O centro de gravidade da instabilidade geopolítica mundial situa-se na Europa. O desmantelamento da ordem bipolar da Guerra Fria continua a repercutir, tanto a ocidente quanto a oriente. A reunificação alemã solapa os alicerces da Comunidade Européia. O tumulto étnico e nacionalista agita as antigas repúblicas soviéticas. Na Rússia, o caos econômico e institucional fertiliza o terreno para a emergência de um poder autoritário e militarista. Em certo sentido, o panorama mundial evoca a memória amarga da década de 1930 quando, sobre o pano de fundo da recessão mundial, desenhavam-se os contornos se terríveis confrontações.
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