segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Balcãs- Pan- Helenismo cria novo Foco de Tensão

Nacionalismo grego provoca tensões de fronteira com a Macedônia e a Albânia e ameaça polarizar região dividida entre ortodoxos e mulçumanos.
 A comissão de Bruxelas, órgão executivo da UE (União Européia) denunciou a Grécia por violação do Tratado de Maastricht. O governo de Atenas terá que se defender perante o Tribunal de Justiça da UE por ter fechado sua fronteira com a Macedônia, impedindo o uso do porto de Tessalônica e impondo assim um embargo econômico ao vizinho . A tensão entre os dois países começou em dezembro de 1991, com a declaração de independência da antiga república iugoslava. Alegando que o nome e os símbolos nacionais da Macedônia – que carregam lembranças míticas de Alexandre, o Grande – refletiriam tendências expansionistas e ameaçariam a integridade da sua província do norte de mesmo nome, a Grécia bloqueou por dois anos o reconhecimento do novo Estado pela UE. Nesse período, políticos do governo e da oposição destilaram nacionalismo extremado, promovendo manifestações de centenas de milhares de gregos em Tessalônica (fevereiro de 1992 e março de 1994) e Atenas (dezembro de 1992).
Tensões de fronteira também turvaram as relações com a Albânia. Em abril, 2 soldados albaneses foram mortos perto da fronteira grega por mascarados que usavam uniforme militar grego e podem pertencer à Frente de Libertação de Epiro do Norte. Epiro do Norte é a denominação grega  para a região meridional albanesa, habitada por uma minoria grega étnica.
O contencioso com a Macedônia e o incidente com a Albânia refletem a emergência do pan helenismo, a exaltação nacionalista grega no mundo balcânico agitado pelo fim da Guerra Fria e pela decomposição da Iugoslávia. A base para o ressurgimento do pan-helenismo é o profundo sentimento de isolamento da Grécia face ao mundo de cultura eslava dos vizinhos setentrionais. A manifestação populista e agressiva desse sentimento consiste na afirmação da primazia histórica da cultura grega e o mito da continuidade ininterrupta da Grécia Clássica no atual Estado helênico.
A UE tem razão em se inquietar com isso. Os Balcãs, que já experimentam a guerra na Bósnia, mergulham na direção de conflitos que pareciam superados pela história. O vértice estrutural da tensão é a rivalidade greco-turca, um eco do confronto secular entre cristãos ortodoxos e mulçumanos na Europa balcânica. As conquistas turco-otomanas dos séculos XVI e XVII geraram maiorias populacionais muçulmanas na Albânia e na Bósnia, e minorias muçulmanas na nova Iugoslávia (Sérvia e Montenegro), Macedônia, Bulgária e Chipre.  O conflito imemorial entre ortodoxos e muçulmanos provocou a invasão turca do norte de Chipre em 1974 e a divisão da ilha entre greco-cipriotas e turco-cipriotas. É ele também que explica o apoio diplomático da Grécia à Servia ortodoxa e aos sérvios bósnios que combatem a maioria muçulmana da Bósnia.
O novo foco de tensão nos Balcãs tende a solidificar a aliança ortodoxa entre gregos e sérvios, empurrando macedônios, albaneses e muçulmanos bósnios para uma maior aproximação com a Turquia.
Nessa hipótese, estariam reunidas as condições para o caos em uma região que abriga as divisões culturais e religiosas forjadas por cinco séculos de guerras e invasões.

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