Nos anos obscuros da ditadura militar brasileira, inaugurada em 31 de março de 1964, a propaganda do regime era feita com base na exibição de grandes obras (Transamazônica, ponte Rio -Niterói, usinas etc.), que, com o futebol e o carnaval serviam à propagação de um ufanismo nacionalistóide. Era o “pra frente Brasil’’ na Copa de 70, ou o “Brasil: ame-o ou deixe-o” dos vários ditadores de plantão.
O ufanismo era o emblema demagógico de uma ordem que, supostamente, protegia o país da “ameaça comunista’’. O apelo à “união nacional’’ pretendia encobrir a ignomínia praticada nos porões do regime (em particular, a tortura e o assassinato de presos políticos) e criava a imagem de um país coeso, que, de fato, era e é dilacerado pela desigualdade social.
O grave é que isso tudo não faz parte de um passado já superado. No último 31 de março, Paulo Maluf inaugurou, em SP, uma grande obra - o túnel sob o rio Pinheiros. A mensagem malufista, inequívoca, é realçada pela data do evento, o 30° aniversário do golpe: um governo forte é capaz de realizações, num momento em que o resto do país está paralisado. Nada se diz sobre o custo social do túnel (que ganhou prioridade sobre ensino, saúde e outros serviços essenciais), e se faz festa numa data que é de luto da nação democrática (a nação que, por exemplo, fez a campanha do Betinho). A força é eficaz! - eis a mensagem malufista. Mas não foi também essa a mensagem no Carandiru?
A democracia ainda é a única alternativa aos que acreditam que governar é igual a administrar empreiteiras. Mas ela requer de cada um o exercício da crítica e da ação política.
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