Coalizão de partidos de direita derrotou os ex-comunistas nas eleições de março, mas as suas divisões internas ameaçam a governabilidade do país
O voto popular, filtrado pelo novo sistema eleitoral misto, montou o cenário político da Segunda República Italiana. Os velhos partidos governistas desmoralizados pela operação Mãos Limpas (a Democracia-Cristã, o Partido Socialista e seus aliados) foram varridos pelo pleito de 27 e 28 de março. Uma larga maioria de direita emergiu na nova Câmara: o Pólo da Liberdade (Força Itália, Aliança Nacional e Liga Norte) tem 366 cadeiras no total de 630. Distribuição das Cadeiras na Nova Câmara). A esquerda conheceu amarga derrota, expressa nas 213 cadeiras do PDS (Partido Democrático da Esquerda, ex comunista), e seus aliados.
Entre as eleições municipais do final de 1993, vencidas pela esquerda, e o pleito geral de março a principal novidade foi o surgimento da Força Itália, agrupamento do magnata das comunicações Silvio Berlusconi, que tornou-se o maior partido, com 21% dos votos. O PDS ficou com pouco mais que 20%, bem à frente da Aliança Nacional (sucessora do MSI, neofascista) e dos autonomistas e separatistas da Liga Norte .
Berlusconi atraiu eleitores que migraram da Democracia-Cristã (que, sob o rótulo de Partido Popular Italiano, teve apenas 11,1% dos votos).
A vitória da direita comemorada ruidosamente por jovens neofascistas em Roma provocou preocupação entre os parceiros da União Européia. A maioria direitista, dividida em três facções inconciliáveis, não garante um governo estável. A Liga Norte quer a autonomia da parte setentrional do país; a Aliança Nacional quer um governo forte e unitarista em Roma; Berlusconi, a ponte entre os extremos, é encarado com desconfiança por ambos. As direitas italianas só têm em comum o ódio atávico às esquerdas.
A Segunda República aprofundou a tensão entre as regiões italianas. A distribuição regional dos votos é o esboço de um país fragmentado em três territórios políticos. O norte, rico e industrializado, votou na Força Itália e na Liga. O PDS domina o centro da península. O Mezzogiomo (o sul, pobre e agrário), deu grande parte de seus votos aos neofascistas da Aliança Nacional, evocando a memória do referendo de 1946, quando optou pela Monarquia.
A derrota do PDS - único partido nacional após a dissolução da democracia cristã - representa uma ameaça à unidade italiana.
Depois da corrupção, os italianos têm que encarar os fantasmas que rondam o seu sentido de identidade nacional.
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