quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Fim dos Blocos da Guerra Fria cria grave Crise Política no Japão

Multi polaridade mundial obriga Tóquio a repensar o seu lugar frente a Washington e abre novos horizontes na esfera geoeconômica da Bacia do Pacífico; partidos tradicionais, como o PLD, são ultrapassados pelos fatos da nova conjuntura  mundial .
As eleições parlamentares de julho representaram uma reviravolta histórica no Japão. O PLD (Partido Liberal Democrático), no poder desde o fim da ocupação americana, perdeu a maioria absoluta. O tradicional partido dos clãs empresariais, epicentro da corrupção e beneficiário da “política do dinheiro” (money power) foi forçado a ir para a oposição. Formou-se um governo de coalizão, reunindo partidos de todo o espectro político sob a liderança de dissidentes do PLD.
O PLD conduziu o país através do deserto da Guerra Fria. Na condição de pilar asiático dos EUA, o Japão encasulou-se sob o “guarda-chuva nuclear” americano.
Simultaneamente, reconstruiu a sua economia, modelando-a para a conquista de mercados externos de produtos industriais. Dependente do fornecimento estrangeiro de matérias-primas, construiu  saldos comerciais crescentes, firmando-se como pólo de irradiação da economia de mercado no leste asiático.
Desde os anos 70, a reorganização produtiva gerada pela “crise do petróleo” catapultou o Japão para a liderança da nova revolução tecno-científica, fundada na automação industrial, na robótica, na microeletrônica e na indústria de informação. Os investimentos externos do arquipélago contribuíram para a emergência dos Novos Países Industrializados do oriente, ou “Dragões Asiáticos” .
O fim da Guerra Fria constitui uma encruzilhada para o Japão. No plano interno, a estabilidade política esgota-se no pântano da corrupção desenfreada, enquanto o crescimento econômico perde impulso e transforma-se em recessão. No plano externo, o frágil governo de coalizão enfrenta um cenário complexo, repleto de armadilhas.
ENTRE O “NÃO” E O “TALVEZ”
O desafio global consiste em reorganizar as relações com os EUA. Liberto das ameaças soviética e chinesa, o Japão já pode dizer não. Mas um não inequívoco envolve a tentação perigosa da guerra comercial, do rearmamento e do isolamento numa Ásia que guarda as lembranças e as feridas do imperialismo japonês.
Tóquio parece preferir o talvez, equilibrando-se entre as novas responsabilidades mundiais e a parceria com Washington. Combina desafios e concessões na disputa comercial com os EUA, envia soldados para o exterior no quadro das forças de paz da ONU no Camboja, pede desculpas oficiais pelas agressões militares na Ásia durante as décadas de 30 e 40. A valsa diplomática de Tóquio prepara a subida de um degrau histórico: o ingresso como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU, solicitação apoiada oficialmente pelos EUA.
O desafio regional consiste em liderar politicamente a zona econômica do Pacífico. Nesse terreno minado, Tóquio precisa superar as desconfianças  de países que conheceram a ocupação (Coréia, Formosa, Indonésia, Tailândia, Malásia …), estabilizar as relações com a China Popular que abre a sua economia.
GUERRA COM OS EUA ROMPEU ISOLAMENTO DA ERA TOKUGAWA
A sombra americana persegue o Japão, ´há mais de um século. Em 1854, forças navais americanas bombardearam os portos japoneses, forçando a abertura comercial do país. Essa operação destruiu o frágil equilíbrio político do Japão tradicional, precipitando o fim da Era Tokugawa. O xogunato deu lugar à centralização imperial.
Começava em 1868 o período da Restauração Meiji.
A modernização industrial realizou-se sob o signo da expansão militar. Em 1894 tropas imperiais tomavam Formosa. Em 1905 as forças do arquipélago derrotavam a Rússia e anexavam  a Coréia. Em 1931 ocorria a invasão da Manchúria chinesa e a criação do Estado-fantoche de Mandchukuo. O Japão formava uma vasta área de influência, chamada pomposamente Esfera de Co-Prosperidade do Leste Maior Asiático.
A esfera de poder japonesa no Pacífico interceptava o círculo de influência naval americano. O conflito, longamente adiado, irrompeu em 7 de dezembro de 1941, com o ataque de surpresa à base havaiana de Pear  Harbor. Em Hiroshima, a 6 de agosto de 1945, o sonho imperial japonês sucumbia na maior tragédia do século.
O Japão contemporâneo nasceu da ocupação americana de 1945-51. Reformado e ocidentalizado, foi envolvido na arquitetura mundial da Guerra Fria, tornando-se um dique contra a expansão da influência soviética no leste asiático.
A disputa com a Rússia pela posse das ilhas Kurilas (situadas no mar de Okhotsk, ao norte do Japão, e anexadas por Josef Stalin após a 2ª Guerra) é um remanescente desse período. A disputa é o nó que até agora impediu que o Japão se lançasse a um ambicioso projeto de exploração e industrialização da Sibéria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário