terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Maio de 1968, 25 anos depois, Racismo Resiste à Democracia

O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS
Luta pelos direitos civis, contra o racismo e a guerra, liberação sexual, “boom” das drogas e rock n”roll inauguram o modo de vida atual.
22 de março: em  Nanterre (bairro de Paris), estudantes exigem melhores condições de ensino e tomam a universidade.
O reitor convoca a polícia. Há luta, presos e feridos. Daniel Cohn Bendit apela à esquerda para organizar a luta contra o Estado opressor. Com o apoio de gente do porte de Jean-Paul Sartre, o Movimento 22 de Março, liderado por Bendit, toma as ruas de Paris, em abril e maio, desafiando o governo e gerando uma forte crise.
As ruas de Paris são cenário de grandes batalhas, com centenas de feridos e vários mortos. Em 17 de abril, os operários da Renault ocupam a fábrica, em solidariedade aos estudantes e por melhores salários. As greves se alastram, a França pára. O Partido Comunista perde o controle do movimento. Em 29 de abril, 800 mil apoiadores do presidente, general Charles de Gaulle, fazem um gigantesco ato pró-governo. De Gaulle decreta aumento salarial de 35% (inflação anual de 5%), dissolve o Parlamento e antecipa as eleições gerais.
A esquerda é derrotada. Os socialistas perdem 61 cadeiras e os comunistas 39.
Em 18 de junho, a polícia retoma a Universidade de Sorbonne, no Quarier Latin, coração de Paris e do movimento.
Enquanto isso, estudantes e trabalhadores desafiavam seus governos na Tcheco-Eslováquia –contra a opressão soviética; nos Estados Unidos –contra a Guerra do Vietnã e o racismo; na Alemanha Ocidental –contra uma universidade fossilizada, autoritária e obsoleta; na Espanha –contra a ditadura sanguinária franquista, que completava 29 anos; no México –contra a pobreza e por melhores condições de ensino; no Japão –contra a sociedade hierarquizada e corrupta; no Brasil –contra a ditadura.
Paris tornou-se símbolo de 1968 por causa de seu lugar histórico e cultural.
Mas as batalhas mais sangrentas aconteceram em países como o México, onde dezenas foram mortos numa única noite, em setembro, e Brasil, onde universitários –alguns deles, brilhantes intelectuais- aderiram à guerrilha e terminaram torturados e assassinados.
1968 foi também o ano da liberação sexual e cultural. Em 29 de abril, Nova Iorque estreou a peça Hair, em que, pela primeira vez, atores mostravam-se nus.
Hippies pregavam paz e amor.
Intelectuais da contracultura e da arte pop denunciavam mitos e a hipocrisia por trás da “civilização”. No Brasil, a Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil colocava o país na vanguarda estética mundial. Mais que um “sonho utópico”, 1968 não acabou, mas inaugurou a idade contemporânea. Foi, nesse sentido, o primeiro ano do resto de nossas vidas.
EUROPA - 93
Convenção de Schengen  discrimina estrangeiros da CE
A comunidade Européia (CE) declara apoiar-se sobre “quatro liberdades” em seu espaço territorial: livre circulação de capitais, mercadorias, serviços e pessoas. As três primeiras beneficiam empresas. A última, que representaria uma conquista dos povos, tende a se transformar em fonte de discriminação contra residentes estrangeiros.
Ao criar a comunidade, em 1957, o Tratado de R o m a estabeleceu a meta da livre circulação de pessoas sem distinção de nacionalidade, raça ou religião. O Ato Único Europeu (1986), que definiu a Europa-93, reproduzia a meta. Assim, enquanto erguia muralhas contra a imigração estrangeira (ampliando a lista de países dos quais se exigem vistos, elitizando a sua concessão e reforçando o controle policial dos portos), a CE comprometia-se a remover entraves ao deslocamento de residentes.
E s s e  compromisso foi  rompido pela Convenção de S c h e n g e n (Luxemburgo), firmada em junho de 1990 pelo Benelux, França e Alemanha, à qual aderiram Espanha e Portugal. A convenção sobre o controle da liberdade de circulação, da imigração e criminalidade, revela no título suas bases discriminatórias. Ao equiparar imigração e criminalidade, dá ao racismo um caráter institucional.
A carta de Schengen define um duplo tratamento para os residentes da CE.
Aos naturais da comunidade ficam  a s s e g u r a d o s  todos os direitos.
Já os demais ficam impedidos de mudar de país no interior da CE.
Mesmo para a t r a v e s s i a temporária das fronteiras eles devem estar em situação legal perante a Imigração de seu país de residência e revelar o objetivo do deslocamento. A Convenção prevê a criação de um sistema de registro das personas non gratas, que teriam vedado o direito à circulação. Finalmente, estabelece a perda do direito de residência aos não naturais acusados de fraudar documentos de deslocamento. A CE criou, assim, a figura do “residente de segunda classe”, estabelecendo fronteiras invisíveis entre os cidadãos  europeus.
Não foi  1968. Foi todo um período dos fins dos anos 50 ao início dos anos 70. 68 sobreveio como espasmo, catalizando a dramática metamorfose cultural. Afinal, antes desse “annus terribilis”, o time do Santos já havia transformado o futebol em balé; Cassius Clay, o ringue numa arena política; Elvis Presley, a música negra num atentado ao bom-senso; Andy Warhol, a alta cultura em cultura popular e vice-versa; a guerra da Nigéria, a atrocidade em espetáculo televisivo; Samuel Beckett, o teatro em incomunicação ritualizada; a “nouvelle vague”  francesa, o cinema; e Brigitte Bardot fizera do estrelato um atentado aos costumes, Norman Mailer já havia proclamado a revolução juvenil. Em 68, o pessoal só pôs fogo no cenário, tendo o cuidado de bloquear a saída.
(Nicolau Sevcenko, Folha de S.Paulo, especial-5, 02 de maio de 1993).
A mobilização dos “cara pintadas” foi decisiva para precipitar o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. O Brasil tornou-se o único país do 3º Mundo a derrubar um presidente por corrupção e transgressão da ética. Nesse sentido, os jovens brasileiros renovaram, em 92, o espírito de 68.

Nenhum comentário:

Postar um comentário