O rabino HENRY I. SOBEL condena o radicalismo e alerta para a crescente tensão na região.
O acordo de paz assinado em 13 de setembro pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo líder da OLP Yasser Arafat, foi, ao meu ver, o acontecimento político mais importante na história do Oriente Médio, desde a criação do Estado de Israel em 1948. A concessão de autonomia aos palestinos na Faixa de Gaza e em Jericó foi um passo significativo em direção a uma paz duradoura na região.
Infelizmente, os radicais de ambos os lados não têm poupado esforços para minar o acordo. Um exemplo trágico foi o recente massacre perpetrado por um judeu fanático contra palestinos inocentes que rezavam numa mesquita em Hebron. O Hamas, a facção fundamentalista da OLP, prometeu revidar. A triste verdade é que o Hamas nem precisa de provocações – seus sangrentos atos terroristas contra civis israelenses são rotineiros.
Incomodam-me profundamente estes palestinos radicais. Incomodam-me porque a única arma de que dispõem é seu extremismo. Incomodam-me porque, junto com os israelenses radicais, eles formam uma aliança secreta dos intolerantes, em que cada lado se alimenta das imagens da rejeição apresentadas pelo outro – imagens de uma sociedade impondo eternamente seu domínio sobre a outra; de um grupo reivindicando todos os direitos, enquanto recusa esses direitos ao outro; de um povo a quem se permite uma história, uma terra, uma língua, uma comunidade própria, enquanto se as nega ao outro.
Incomodam-me profundamente os palestinos radicais, porque em sua doutrina vejo refletidos, como num espelho, os argumentos dos nossos próprios radicais nacional religiosos, segundo os quais todos os direitos históricos na Terra Santa pertencem aos judeus, e nenhum aos árabes palestinos. Será que existe, na verdade, alguma diferença entre os fanáticos do Hamas, preconizando a destruição de Israel, e os fanáticos seguidores do rabino Meir Kahane, preconizando a expulsão dos árabes? Nenhuma. Ambos são adeptos do mesmo culto idólatra.
Ambos apelam para Deus, Fé, História e Justiça Universal para legitimar seus direitos irrestritos sobre a terra e a supressão dos direitos do outro. O radicalismo judeu se alimenta do radicalismo palestino, o palestino se alimenta do judeu.
Incomodam-me os radicais de ambos os lados, porque seu fundamentalismo é capaz de submergir a sociedade num perpétuo turbilhão de violência.
Sei que quase todos os israelenses têm um profundo ressentimento contra os palestinos. O t e r r o r i s m o p e r p e t r a d o durante anos pela OLP deixou na s o c i e d a d e israelense feridas difíceis de cicatrizar. Sei que quase todos os palestinos têm p r o f u n d o ressentimento contra Israel, e nem esperaria que fosse diferente. Mas tenho certeza de que grande parte deles, como muitos de nós, são sensíveis e idealistas, sofrem os traumas da guerra e sonham sonhos de paz.
Há mais de 4 milhões de palestinos no Oriente Médio e – não obstante as loucas fantasias dos extremistas judeus – eles são indestrutíveis. Há mais de 4 milhões de judeus israelenses e – não obstante as alucinações dos radicais palestinos – eles também são indestrutíveis. O que permanece é a capacidade que cada grupo tem de causar trágicos danos físicos e morais. É a certeza de que, a longo prazo, nenhuma das partes se beneficiará a estratégia de agressão.
Incomodam-me os fanáticos de ambos os lados: sua intransigência, histeria, seu rancor, sua falta de empatia com qualquer um diferente deles. O mundo de amanhã será feito por outras pessoas, suficientemente moderadas e sábias para saber que não existe uma “solução final”, e que a única solução duradoura é aprender a conviver uns com os outros.
Como rabino, só posso aplaudir a corajosa iniciativa de paz de Rabin e Arafat, e pedir a Deus que ilumine os radicais de ambos os lados, para que não criem mais obstáculos. Minha prece é que cheguemos a ver o dia em que as nuvens no Oriente Médio serão dispersas e as trevas dissipadas. Minha oração é que brilhe logo o sol da paz sobre palestinos e israelenses, filhos de um só Deus.
ANISTIA INFORMA
Nesta seção, Mundo divulga relatórios, campanhas e denúncias da Anistia Internacional (AI) sobre o comportamento dos países em relação aos Direitos Humanos. Caso você tenha dúvidas, queira saber mais ou pretenda participar da AI, anote o endereço: São Paulo: Rua Vicente Leporace, 833 CEP 04619-032 fone: (11) 542.9819
Desde outubro de 1993, a AI está realizando uma campanha planetária contra os “desaparecimentos” e as execuções extrajudiciais no mundo. Para a maioria das pessoas, aqui no Brasil isso parece ser uma forma de desrespeito ao ser humano muito distante, como se não fosse acontecer próximo de nós. E aí fica a pergunta:
o que é um “desaparecimento”? Execuções sumárias estão tão distantes de nós assim?
O que a AI pretende com essa campanha é justamente oferecer mais informações sobre tais violações no mundo, e fazer com que todos entendam que esses crimes perversos e condenáveis, mesmo que sejam praticados em outros países, e que as vítimas merecem respeito, seja de que raça, cor ou sexo pertençam.
Geralmente, quando noticiários descarregam maciçamente informações sobre execuções extrajudiciais e outros crimes na Bósnia, no Oriente Médio, na Europa ou na África, tais notícias tratam das vítimas muito friamente, através de estatísticas, números e percentagens. Mas o que está por trás desses números é a grande preocupação da AI. Sejam 100 pessoas vítimas de um massacre, ou apenas uma que “desapareceu”, são sonhos, expectativas, paixões, planos, carreiras, projetos de vida interrompidos. Todos trazemos em nós mesmos esses sentimentos, esperança de construir uma vida digna, emoção pelo que somos e fazemos. E quando isso é brutalmente interrompido, abortado, ninguém tem o direito de ficar indiferente porque “não conheço estas pessoas” ou porque “acontece em regiões tão distantes” (...) ou “o que eu poderia fazer?”
A defesa dos direitos humanos está em cada um de nós perceber que todos somos responsáveis por tudo em toda parte. Mais do que isso, que direitos humanos têm nome, sobrenome, local e data. E que é urgente muitas vozes em muitas línguas exigirem respeito e justiça por indivíduos.
“Um judeu que é nazista se chama nazista” (Shimon Peres, chanceler de Israel, O Estado de S. Paulo, 03.mar.94, pág. A-14)
O chanceler procura dissociar o Estado de Israel da chacina de 25 de fevereiro “Que motivos me levaram a aderir à AI? Não sei bem defini-los. Aderi por um ímpeto de alma.
Talvez por indignação. Certamente por paixão pela justiça. E também pela esperança de servir” (Goffredo da Silva Telles Jr., advogado)
“Como rabino, solidarizo-me incondicionalmente com a nova campanha da AI pelas vítimas das execuções extrajudiciais e "desaparecimentos" em todo o mundo”.
(Rabino Henry I. Sobel
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